Crónica de parte da minha loucura

Data 18/05/2013 22:26:47 | Tópico: Crónicas

Confesso-me estranha, esquisita, diferente, inadaptada, desajustada e até desiquilibrada.

Costumo dizer que este mundo não me pertence, não me preenche, pouco me diz e muito menos me faz feliz . Também não é por isso que tenho pressa de morrer, mas nunca me aferirei àquilo que chamam de padrões socialmente corretos.

Desde que me conheço, por gente, que me recordo de ter completo pavor de estar em salas fechadas com outras pessoas. Começo, automaticamente, a imaginar que o oxigénio vai acabar e, sempre que possível, corro a abrir uma porta ou uma fresta de uma janela, alheia ao facto de estar muito frio ou a chover, sob pena de entrar em pânico. A isso poder-se-ia chamar claustrofobia, não fosse eu não sentir esse mesmo desconforto em elevadores ou aviões, o que seria muito natural, tendo em linha de conta o mesmo princípio de estar confinada a um espaço pouco oxigenado e ser obrigada a dividi-lo com outros protagonistas, na sua maioria alheios ao drama que estou a experienciar nesse momento. Creio que a minha mente consegue monitorizar que se trata de uma situação pontual.

Até há pouco tempo, quando entrava num cemitério, sustinha a respiração, o maior tempo possível, para não respirar o gaz sulfídrico que os corpos em decomposição libertam. Como aparte, por força do episódio trágico da morte da minha mãe, essa situação eu já superei. Hoje em dia, já vou ao cemitério sem quaisquer problemas.

Situação idêntica ocorre comigo quando vou visitar alguém em hospitais, fico sempre com a impressão que vou apanhar todos os vírus que os doentes da enfermaria têm, logo não consigo respirar fundo, em ambiente hospitalar.

Grandes superfícies, com muita gente a circular, tal como hipermercados ou grandes centros comerciais, toldam-me a cabeça a ponto de quase desmaiar. São espaços a não frequentar.

A menopausa também não me tem poupado a estes constrangimentos. Em termos profissionais, partilho um gabinete com outras três colegas. Sinto-me presa, entre quatro paredes. Enquanto eu morro de calor e a ideia de não entrar oxigénio na sala me persegue, as restantes colegas tiritam de frio. Escusado será dizer que, a maioria vence e para ajudar a saturar o ar, ainda tenho de aguentar o sistema de ar condicionado, propagador e proliferador privilegiado de ácaros, fungos e bactérias, modernismos, conscientemente, nocivos à saúde. Dando-me por vencida, mas, não por convencida, lá vou engolindo goles de água para refrescar a minha obsessão maníaca/depressiva .

Serão fobias, taras, manias, loucura, traumas de vidas passadas, ou apenas fragilidade humana, de quem usa a cabeça para pensar nos mais ínfimos detalhes da vida, mas, não, somenos importantes, tal como a relevância, para a nossa sáude, do ar que respiramos?

Mesmo que fique sem resposta, isto é apenas uma pequena mostra da minha peculiar forma de ser e de estar...

Maria Fernanda Reis Esteves
53 anos
natural: Setúbal



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