Fodei-vos

Data 04/06/2013 04:34:33 | Tópico: Poemas

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O amor
é invenção nefasta
do sexo.
O nexo dos corpos juntos
parido pela linguagem.
O amor,
verdade esfarrapada
para desculpa.
O amor,
mentira talhada
pela raça
que se quer casta
em palavras.
O amor não existe
em sí,
para além dos suores
e outros fluídos.
O corpo ama, só se for.
Corpo não é mentira,
corpo não é pecado.
A alma alucina amores,
o corpo sente-os
em fricção de peles
e respirações.
O amor é a maldição
do humano,
vítima de seu corpo
biológico,
entregue à lógica
dos hormônios e neurotransmissores
e escravo das justificativas
para a culpa,
para a responsabilidade,
para o objetivo,
para o plano traçado
pelos ancestrais
sobre ser humano,
sobre amar -
a missão de encontrar par,
as borboletas no estômago,
a posse,
a obsessão,
a negação da solidão
conjurada como tristeza.
É proibido dizer
que é possível ser feliz sozinho.
Pode-se matar Deus,
mas não o amor.
Os corpos seriam órfãos
do único sentido de vida
que compreendem,
porque o fazem com seus corpos
suficientemente opacos,
tangíveis,
ao alcance do tato.
O amor é inatingível.
A fábula invisível
que se crê com a certeza
do corpo.
Cometem disparate,
aqueles que confundem o sexo
como do amor, apenas parte.
O amor é resquício
de dualismo metafísico.
O corpo é a matéria monista,
o todo.
O amor é a meta do tolo.

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