Porquê Poeta?

Data 05/06/2013 15:00:55 | Tópico: Textos

Chegou a noite. Esse momento distinto esse entardecer na memória, o querer saber o que se foi, o que se é e o que se pode vir a ser. Não se sabe nada da noite; se é triste ou alegre, se canta, ou se dança ou se é a musa dos poetas.
Porque os poetas escutam os silêncios da noite?
Só a noite os reconhece nesse abandono, nessa triste sina de não poderem ser donos dos seus próprios silêncios.
Adormecem vestidos e com os olhos abertos.
Traem os seus próprios momentos.
Não sabem trancar as portas aos intrusos, aos vagabundos, aos agiotas.
Pertencem ao mundo dos vivos e dos mortos-vivos.
Diz-me porquê poeta, diz-me porque tens em ti destinos doutros, que não o teu próprio destino?
Lamentas a guerra e a fome e a desordem natural das coisas mais simples.
És poeta das figuras abstractas, exaltas a fé
dos que nem sabem o que isso é.
Mas sabes que há um tudo negro, assim como um tudo branco e tudo tem a sua ordem natural de ser.
Porque o céu é “o céu” e a terra é “a terra”?
Porque o sol é o mais poderoso no universo? E a lua ali tão frágil na noite!
Poeta, poeta que me deixas nua e não sabes a cor da minha pele.
A noite é tão tua como minha e eu ainda não sei a sua cor. No escuro não se vêem cores, Porque as cores são “as cores” e o negro é “ o negro”?
Já não entendo nada poeta. Nem sei porque o nada “é nada” e o tudo “é tudo” na tua voz poeta.
Escuta os silêncios. Olha que eles fecundam a tua noite. Já agora porque não sugeres à noite que aceite ser cônjuge do silêncio?

Eventos Dakini - Nov/12


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=249132