Ressonância #.#.#

Data 13/06/2013 21:44:32 | Tópico: Poemas

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Ressonância






Quanto ao que escrevo, são vísceras radiografadas
Que as deixo ancoradas sobre a luz
Para que eu mesmo possa ver os tumores
E as fraturas internas, meus ossos quebrados.

Escrevo para capturar uma visão íntima de mim mesmo,
De minha feiura, de minhas veias entupidas.
É preciso limpá-las e eu improviso.

Escrevo na esperança de uma cura,
Na esperança de uma ruptura do homem velho,
Um separação desse passado disforme e inútil.

Não sou poeta, não é por isso que escrevo,
Mas utilizo palavras à maneira de uma lupa
Que me possibilite esse olhar mais fundo
Nas células do meu condicionamento.

Por que faço o que faço e não outra coisa?
E por que sou isto que abomino
E não aquilo que amaria se acaso possuísse?

A poesia me sugere alguns caminhos
E me faz sentir que sou melhor, apesar de tudo.
E isso, de certa forma, me faz querer ser melhor.
A poesia me leva, se estendo as mãos,
E sempre estou de mãos estendidas,
E sempre aprendo alguma coisa que valha.

E se não aprendo mais é porque me falta
Um outro braço, um outro cérebro,
Ou, quem sabe, um coração disposto ao sacrifício.

Mas aí, talvez, seria outra pessoa.
Alguém, que como eu, também iria ter o mesmo desejo,
Um algo melhor do que ele mesmo.

Porque ao homem falta sempre o contentamento,
Visto que nada basta a esse mesmo homem,
Quando roça na pele este sentimento,
Quando se vislumbra o mistério desse infinito.









Milton Filho/05.06.13



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