"Fones"

Data 05/07/2013 01:34:58 | Tópico: Poemas -> Introspecção

E enquanto a música faz-se pouso para palavras que não sei pronunciar,
O silêncio cede espaço para as sensações que nele se traduzem
- Este frio ligeiro que sussurra Inverno no pescoço,
A dormência que me lembra que há muito que estou sentado,
Olhando para um algo que não existe e, ainda assim, me faz existir.

E enquanto estas notas erráticas se escapam da melodia do meu passo parado,
As minhas mãos descompassadas pontuam as pausas da mente.
Fazem-me acreditar que pensamentos têm ordem e obra,
Que podem mais do que este soluçar fragmentado;
Mas também a esperança de uma certeza não passa de um brilho intermitente.

E enquanto esta voz se acumula nos meus ombros e me abraça em segredo,
Encontro nas nuvens de perto a cor desta dor vinda de longe;
Essas fontes que choram as mesmas lágrimas para saciar a mesma sede,
E entre a humidade do seu corpo-espectro escondem o suor dos meus olhos...

E, entretanto, a música parou, as nuvens lá vão e eu nada sou.

(08-01-13)
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