Eu sou a mosca. Se der sopa, eu pouso.

Data 15/07/2013 23:37:15 | Tópico: Poemas

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Eu sou o homem da meia-noite.
Eu sou a mosca.

Vermelho nos ouvidos.
O tridente em meu ventre,
a cruz, futura,
sobre pentagrama invertido
em minhas costas.

Tudo às minhas custas,
pago com cifras
de violões vilões
tocando vermelho
em minha orelha.

Enquanto não dá meia-noite
eu sou só o homem só
com vistas para mim mesmo.

Eu sou o corpo, alugado,
temporariamente,
pela alma, espírito ou mente
que mente para mim o tempo todo.

Eu, mentecapto.

Qualquer hora decapitado
por guilhotinas que eu mesmo crio,
em ânsia da mente,
demente.
Por minha mínima culpa.

As tatuagens que faço,
nos caminhos
quando os trilho
em cruzadas
de encruzilhadas...

O caminho é sinal pungente,
enchendo-me de pus-vida, gente,
motivando-me a caminhar.

"Minha vida é andar por esse país,
p'ra ver se um dia me sinto feliz..."
... na feliz cidade.

Meia-noite eu viro abóbora.
Ingrediente de uma sopa imagética.

A realidade em torno de mim,
líquida,
e coisas e fatos,
sentimentos,
tatos,
os cheiros que sinto,
o murmurar das vidas alheias,
alhures em paredes da indiscrição urbana...
Tudo, tudo,
é ingrediente da sopa cósmica.

Meia-noite eu sou na sopa,
o homem da meia-noite.
Eu sou também a mosca
que pintou pr'a lhe abusar.

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