Memórias de Uma Insana XII – Impregnação Medicamentosa

Data 18/08/2013 04:12:42 | Tópico: Contos


Foto Betha Mendonça


Memórias de Uma Insana XII – Impregnação Medicamentosa
by Betha Mendonça

Hospício é um lugar ruim de ser “hospede” qualquer que seja o local. Na ala número três não bastassem meus gritos interiores e delírios – sem o acolchoado que protegia as paredes e abafava os sons - eu tinha que aturar os dos outros doidos. E como berravam os malucos! Sorte que a noite havia sossego. Com todo mundo dopado, a gente podia dormir e alucinar sem incomodar uns aos outros.

Como havia janela no quarto a minha pele adquiriu ar menos doentio. O rosto corou de tanto que ficava com ele pregado na grade a sentir o calor do sol. Pude verificar tal melhora pelo cromado da descarga, pois continuava sem espelho.

Tudo começou a mudar de repente. Meus músculos dia após dia ficavam mais rígidos. Passei a ter dificuldade para movimentar os membros e mal conseguia falar nas sessões da psicoterapia. A saliva tornou-se frequente e fluida e eu babava como um bebê. Andava com os braços em ângulos retos e as pernas retesadas como um autômato antigo, da época em que eles não tinham muita mobilidade. Resumo a ópera: eu me tornara um robô ultrapassado como o do seriado Perdidos no Espaço!

Para completar a desgraça meus pensamentos embotavam e como eu esquecia coisas, as repetia diversas vezes até a exaustão. Um horror! Calmo e sempre otimista na minha cura, o doutor explicou que ‘robotização’ se devia a impregnação do meu organismo por alguns medicamentos. Segundo ele o ajuste nas dosagens ia me libertar daquela situação. Boa pessoa o doutor, mas se eu tivesse condições dava um tabefe na cara dele por errar com a mão na minha medicação e me deixar daquele jeito patético!




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