quando a matina desperta das migrações

Data 23/08/2013 20:04:46 | Tópico: Poemas

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É da loucura que me falas
pelas cores que rorejam as noites sem fins previstos.

Ruem os temores do verão de tantos reencontros,
e a flacidez da face já gasta, queimada pelo sal,

quando me dizes ouvir as estrelas
pelo crepitar dos santelmos acesos
iluminando o salso reino em redemoinhos.

Regressas.

Penso-te mar sempre que te penso,
relembrando-me do esvoaçar das orquídeas em flor,
pela ténue aurora,
ou do poema maldito encarcerado junto a uma alma moribunda,

por miríades vezes, sem miçangas coloridas em volta,
mas,
as sibilas, sempre me dizem que te escondes pelos horizontes.

Silencio-me.

Maiores as tormentas que o arco-íris iluminado,

e tudo se esvai quando a matina
desperta das migrações procurando o perigeu,

das nuvens escondidas, tímidas,
fumegando cada vez mais perto, enquanto a janela se abre,
dissipando o respirar arfante,

falas-me do sentir.

Saberás um dia dos perenes murmúrios em cascata,
perdidos,

desabrigar-me-ás deste desequilíbrio
que me fragmenta de ti.

Das distâncias de mim.


(Ricardo Pocinho)



Nota:

rorejar - [Linguagem poética]  Destilar (orvalho).
santelmo - Fosforescência que em certas latitudes e principalmente em tempo de trovoada se nota no alto dos mastros dos navios.
salso reino – o mar
miríade - (grego murias, -ados dez mil) O número de dez mil.
[Figurado]  Grande número.




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