O sapo poeta

Data 29/08/2013 10:57:58 | Tópico: Poemas

O sapo poeta

Não havia uma pequena aragem
E o sol já aquecia
O meu corpinho friorento.
Vesti o casaquinho de lã
Que a minha avó me fez
De novelos multicores,
Por isso lembrava-me
O arco iris em dias de trovoada,
Quando o sol brilha e faz esplendor,
Espalhando-se pelo imenso céu azul.

Adoro-o!
Pus um chapelinho de palha já velhote,
Mas que está sempre à mão,
Ali no bengaleiro da entrada.
Resolvi sair da quinta
Para ir espreitar
Aquele belo campo verdinho e macio,
Atapetado de relva e de ervas daninhas, sim,
Mas que se espraiava pelo campo todo ali em redor.

Dirigi-me então ao ribeiro,
A água agora corria saltitando,
Pois chovera quase todo o inverno
E o ribeiro costumava encher
E formar pequenas cascatas
Por aquelas pedras
Tão branquinhas de tanto serem lavadas.

Quedei-me a rever aquele quadro
Que de tão belo, o meu pai,
Já tinha retratado inúmeras vezes.
Por toda a margem
Umas pequeninas flores silvestres,
Muito amarelinhas, a que geralmente
Costumam chamar malmequer de burro,
Pois estes animais adoram comê-las
Quando andam no pasto.

Cresciam desordenadas.
Acho-as tão engraçadas!
Comecei a colhê-las.
Também ia apanhando pequenos miosótis
E misturando-as fazia um vistoso raminho matizado.
Estava tão amoroso! Vou levá-lo à minha avó,
Pensei eu. Ela gosta tanto
De pôr flores à nossa senhora!
É um ramo muito singelo, mas colorido
E vai dar vida ao seu acolhedor quartinho!
De repente o meu pé desliza
E desequilibrando-me,
Fui de joelhos pela fresca relva fora!
Ai!Ui!, Gritei eu! Que é isto?
Estava toda enlameada.

Um pequeno fio de sangue descia do meu joelho.
Choraminguei, anh! anh!.
Olhei então à minha volta,
Como se estivesse a pedir ajuda
E vi um pequeno sapo, saltando na relva
E coaxando com um ar enfurecido.
Tinha-o pisado sem querer
E ele parecia, bem pouco complacente!
Disse-lhe então:
-desculpa sapinho refilão, mas não te vi!
Além disso olha para mim,
Também não foi nada agradável
O que me aconteceu, não achas?
Pareceu-me assim, um pouco mais razoável.
Lavei então o meu joelho no refrescante ribeiro
E atei-lhe o meu lencinho de assoar,
Que estava lavado.
Estanquei o sangue, protegendo-o também.
Entretanto o sapo parecia bem mais contente
E divertido, coaxando parecia dizer:

-Ó menina arco-íris
de chapelinho de palha,
Preste lá muita atenção,
Veja lá se o pé lhe falha.

Olhe para os meus holofotes,
São grandes vêem-se bem!
Eu apanhei um bom susto,
Mas a menina também!

Eu olhava para ele rindo, e gritei-lhe divertida;
-adeus! Adeus! Sapinho maroto!
Adeus! Sapinho poeta!

Voltei para casa alegre e apressada.
Levava na mão aquele raminho de flores viçosas
E uma história bem vivida para contar à minha avó.
Tinha sido um dia, bem diferente,
Pois tinha!
Fabuloso!
Vólena



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