Memórias de Uma Insana XIV – Silêncio e Solidão

Data 31/08/2013 14:22:57 | Tópico: Contos


Foto Betha Mendonça

Memórias de Uma Insana XIV – Silêncio e Solidão
by Betha Mendonça

Silenciei as palavras.Presas na ponta da língua foram absorvidas e transportadas pelos vasos sanguíneos para todo o meu organismo. De acordo com o sentimento, o efeito produzido podia ser o de um veneno que me acorrentava à alma no abismo do sofrimento interior, disparava no meu cérebro dores lancinantes e me contorcia as entranhas na mágoa, rancor e tristeza. Ou o efeito floral que me dava voos n’alma, ondas alfa me dominavam o cérebro e corpo exalava um êxtase perfumado.

Havia em todo aquele silêncio grande satisfação interior de saber só minhas aquelas sensações. Um prazer solitário que me dava à certeza de que meu mundo interior era rico e que eu não precisava ir além das palavras: elas jamais seriam entendidas pelos outros.

Os terapeutas vinham. Como pescadores lançavam as mais diversas “iscas” na tentativa de pescar alguma palavra ou emoção no fundo de mim.Mas, eu permanecia como um aquário de águas turvas, que por falta de manutenção, sem oxigênio toda a vida havia morrido.

Minha família veio.Eu os olhava como os estranhos que eles me foram à vida toda e só depois que enlouqueci e vim parar no hospício fui capaz de perceber... Traziam lágrimas nos olhos.Não sei se de culpa ou piedade e nem me interessava saber.Tinham nas mãos os afagos e na voz a doçura que não me deram em menina... Nem nas centenas de vezes em que lhes supliquei por atenção!

Após todos se retirarem o doutor me olhou inquisidor antes de fechar a porta do quarto.Creio que começou a duvidar da minha cura!...



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=254552