Enquanto subsistia o cheiro de uma simples violeta

Data 27/12/2007 18:42:22 | Tópico: Poemas

Enquanto subsistia o cheiro de uma simples violeta
abarcavas o azul febril em silvestres globos
e eu bailava plena, de pés nus a terra,
ao som de um poema ainda por inventar.

[Era planeta no Cosmo Sideral,
era som, fonema celestial,
de um rio carnudo em busca do seu caudal.]

Enquanto durava o instante
abarcavas o verde amplo de todos os prados
e os meus olhos ecoavam em mornas cálidas
de fadigas e de fados viajantes,
silenciando floras e faunas em declive p’las colinas,
p’las areias douradas de tão finas,
no andrógino movimento
de ser lamento,
do agora, do ontem, do antes… do amanhã.

Tomavas-me a pele derramada em seiva na tua mão,
sustinhas-me a fala na avidez da tua boca,
conduzias-me o voo rasante de borboleta,
e tudo se resumia, amado, à concórdia rectilínea de um dia inteiro.

Emudeceste o canto,
silenciaste o timbre dionisíaco dos astros
e os meus lábios e nos meu lábios,
quedam-se gretados, lagos frios,
que pinto ténue, d’azul, em tons líquidos d’alabastro.

[Na planície, ali ao longe, voam perdidos, pássaros do sul.]



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