E do ventre sofrido de Maria surgiu na caatinga do sertão chupeta de cacto berço de espinho nasceu João. De Maria, nasceu o messias do sertão pé queimado no chão vermelho corrida pra buscar pão. Suor seco, água em pó lágrimas para refrescar o rachado das mãos nem mesmo o joelho caído sobre a morte era suficiente para Deus mandar um pedaço de sorte. Correndo do sol de todos se cobriu no pau de arara e os cabeças chatas foram todos atrás de água, o rumo era incerto, só em deus confiavam, mesmo que ele lá em cima nunca tenha os amado. Rumo a salvação é a terra prometida, o sol lá não é tão forte e lá tem muita comida. Chegando na famosa terra, de terra não tinha nada. Tudo era plástico, tudo era de aço as plantas, os carros, até o bom dia era fabricado. O mar de dinheiro que haviam lhe falado, só existiam para alguns, e esses nem português falavam. Olhando ao seu redor, viu que estava mais ferrado, as lágrimas antes vermelhas de terra, agora eram pretas de fumaça. Com suas trouxas de roupas, foi tentar arrumar serviço, de chinelo de dedo, foi barrado num bairro dos ricos, numa loja riram do seu sotaque, na outra disseram que não tinha mais idade. Agora, João percebeu que tinha outro chão Aquele batido de pisadas do diabo, agora é uma calçada de asfalto. Sem rumo, sem direção, correu na contramão, gritou pelo seu criador essa terra aqui é mais seca que a minha, a fome aqui mata mais que lá em cima, o sol disso aqui queimou tudo o que eu não tinha, a vida aqui não tem dó da minha sina. João, com fome, orou e fez o plano. Levar da colheita de concreto tudo o que couber no estômago comeu bebeu riu dançou Nunca comera tanto E um sorriso ele ganhou. Mas pra cabra da peste a vida é dura, o sol de todos, o encontrou. Agora joão, dos homi ele correu, na terra de concreto e plástico um tiro ele recebeu. O sangue vermelho e ralo no asfalto preto escorreu. A dor aguda da bala nas costas, João nem sentiu, só viveu. A lágrima, não era mais vermelha de terra, e nem preta de fumaça. Era uma lágrima pura, só pra quem recebia a graça. A morte era o caminho. A cidade prometida agora ele encontrava, água para beber á vontade, até mainha estava lá com saudade. O banquete era para todos, sem distinção da pele ou social. O amor entre todos era verdadeiro, não existia interesse, apenas a alma.
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