quão perto do outro estou que me quedo

Data 17/09/2013 18:53:47 | Tópico: Poemas

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em tempos de trovoadas
cumprira-se tudo, sem êxtases,
e depois falava-se do universo,
simplesmente,

como se os mistérios da implosão fossem tão difíceis de entender,

maiores que os do fundo do mar, descansos internos,
por prescrições esbanjadas sem ritmo,
música.

Enormes gritos sufocados pelos amares distantes,
onde o odor das alfazemas persistia eternamente em coro,
repetindo refrões;
“tenho-te em mim quão perto este mar ,
saber-te-ei sempre, mais uma maré além”,
éramos.

Do corpo morto de melissa nasceram abelhas,
sobreviveu um poema,

e perco a razão por entre as frestas das janelas entreabertas
sobre um horizonte encrespado, sem destino,
sem sentido o que as palavras escondem a cada baloiçar,
que tu chamas de navegar.

Nem dos meses por onde regresso,
me recordo,
adernando a estibordo a madeira apodrecida,

nem do tombar da noite pelo avivar de um único reflexo.

[quão perto do outro estou que me quedo],
finalmente,

dirás.

Bífido.


(Ricardo Pocinho)


Nota:
Melissa, era sacerdotisa de Deméter e foi iniciada pela deusa em seus mistérios. As outras sacerdotisas quiseram que ela lhes revelasse o que tinha visto. Mas tendo Melissa se recusado, foi despedaçada pelas companheiras. Como castigo Deméter enviou uma praga à cidade e do corpo da morta fez nascer as abelhas.


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