
INCONFORMISMO
Data 29/12/2007 02:50:29 | Tópico: Poemas -> Desilusão
| INCONFORMISMO
Casar é ter mulher, filhos, família, Quando se é homem.
Porém nos nossos tempos é quezília: Ou se há-de ser fidalgo ou indigente… Quando termina o dia, e nos deitamos, Em princípio, será para dormir. Exaustos, mas sem sono, interrogamos: -Bom: amanhã, que mais irá subir?!
Manteiga, leite, queijo, gasolina, Gás, óleo, azeite, e o mais que se verá! Remédios? Só por luxo! Nem morfina Já nos sossega; quem acudirá?!
Que horror! Velhos e novos com catarro! Lamenta cada um a sua sorte! Vamos ao barracão: nem um chicharro! Há sempre algum finório, que os exporte…
Oh, terra de lavoura e pescadores! O que produzirás tu, afinal!? Há quem queira que sejas só Açores: Mas, para mim, és sempre Portugal!
Que descriminação! Tens filhos pobres! Mas outros, levam vida regalada! Estes, passeiam; gozam os seus cobres, Rindo dos outros, que não têm nada!...
Isto está mal, assim, tem paciência! É forçoso lutar, sem sucumbir. A corrupção conduz `d delinquência; Mas, para debelá-las, há que agir.
Longe de nós ideias conformistas, Que só trunfos darão ao ditador! Façamos vigorar nossas conquistas, Exigindo mais pão, vida melhor.
Vítimas de injustiças sociais Somos, por não vencermos o papão. Refilemos, nem alto: -Isto é demais! É tempo de acabar a servidão!
Temos nem aprendido à nossa custa; Porem ninguém se emenda, infelizmente! Se a voz dos oprimidos não é justa, Vejam se o provam, mas, concretamente!
De impostos carregais nossa pobreza; De longe mandais vir carros de luxo. Que austeridade é essa riqueza? Pudera! Foi roubada ao nosso bucho!...
Vamos, população: abre esses olhos! Teus músculos, a força do país! Os filhos que lhes dás, tombando, aos molhos, Mais te enfraquecem, Pátria; e já não ris…
Caindo, vivos, neste cemitério, Pelos abutres somos devorados! Muito conseguiremos, falo a sério, Quando lutarmos, todos aliados!
Chora e morre à miséria a pobre infância: Já quase nem migalhas tem no prato! Mas quantos têm carne em abundância Fresquinha, para si, o cão e o gato!...
Foi a bela igualdade que nos deram, Que dizem ser forçoso conservar. Que espertalhões! Nem sei como puderam Uma nação inteira subornar!
Aproveitaram bem a circunstancia Do cansaço que havia em toda a gente! Veio a penúria, em vez dessa abundância Que prometeram; tal não é decente!...
Acabemos depressa com a fome. Ou, se a tivermos, seja partilhada. Chamando sempre as coisas pelo nome, Esmaguemos, sem dó, tão vil cambada!
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