
muros infindáveis
Data 25/09/2013 12:25:04 | Tópico: Poemas
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ruas desertas passam junto ao coração, a noite está fria, os collants continuam a vaguear pelo breu, ao longe os faróis continuam apagados, esperam que me aproxime. não sei que horas são, o tempo aqui não avança, permanece esquecido como as árvores centenárias que adornam a solidão do meu corpo vendido. os gatos observam-me constantemente, perseguem os meus passos inquietos, as frieiras já não aguentam os botins decididos de outros tempos, sentem o peso do chão e as rugas disfarçam-se nas fissuras do asfalto.
as gargalhadas desfazem-se nos meus ouvidos; a criança corria feliz, na minha memória, atrás das nuvens. nesse momento morri quando um homem de meia-idade me agarrou no braço: - anda, preciso de aliviar os meus demónios, e não te pago mais do que 20 euros. entrei no carro, debrucei-me, os sinos dispararam como se anunciassem o meu suicídio, era sempre assim, questionei sem rodeios os medos mas a fome viciada era mais potente do que qualquer demónio com cio.
dentro da minha boca dardeja uma planta de saliva que se alimenta de crak, de qualquer coisa, que me faça vir dentro destes olhos comprimidos pela insónia, deste frio sujo de esperma que agasalha as heras e me suborna os braços, morreste-me no dia em que me matei junto destes muros infindáveis
Conceição Bernardino
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