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 DINHEIRO (ÁLVARES DE AZEVEDO) - O HUMOR NA "LIRA DOS VINTE ANOS"Data 12/10/2013 19:29:43 | Tópico: Prosas Poéticas
 
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 Sem ele não há cova—quem enterra
 Assim gratis a Deo? O batizado
 Também custa dinheiro. Quem namora
 Sem pagar as pratinhas ao Mercúrio?
 Demais, as Dánaes também o adoram.
 Quem imprime seus versos, quem passeia,
 Quem sobe a Deputado, até Ministro,
 Quem é mesmo Eleitor, embora sábio,
 Embora gênio, talentosa fronte, Alma
 Romana, se não tem dinheiro?
 Fora a canalha de vazios bolsos!
 O mundo é para todos... Certamente,
 Assim o disse Deus—mas esse texto
 Explica-se melhor e doutro modo.
 Houve um erro de imprensa no Evangelho:
 O mundo é um festim—concordo nisso,
 Mas não entra ninguém sem ter as louras.
 
 *”Oh! dinheiro! Contigo somos jovens, belos, adorados; temos consideração, honra, qualidades, virtudes. Quando não temos dinheiro, ficamos dependentes de todas estas coisas e de todo o mundo.”   		 				                                                                                                                               CHATEAUBRIAND.
 Tradução: Coleção L&PM Pocket, nº 118, pág. 194.
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 Poesia muito diferente de todas as outras de Álvares de Azevedo (1831-1852), segue outro “estilo”. O pequeno verso de Chateaubriand (Francois-René de Chateaubriand - 1768/1848 – escritor francês de romances e novelas) logo no início, diz sobre vantagens e desvantagens do dinheiro – tê-lo ou não?
 
 Trata-se de uma estrofe gigantesca quando comparada as outras criadas pelo adorável poeta, são dezessete versos (cada uma das linhas gráficas) e não existem rimas entre eles.
 
 São decassílabos (dez sílabas poéticas), vejamos a escansão (divisão em sílabas sonoras) dos quatro primeiros versos:
 
 “Sem-e-le-não-há-co-va-quem-en-ter-ra
 As-sim-grá-tis-a-Deo?-o-ba-ti-za-do
 Tam-bém-cus-ta-di-nhei-ro.-Quem-na-mo-/ra
 Sem-pa-gar-as-pra-ti-nhas-ao-mer-cú-/rio?”
 
 Fala do seu bem e do seu mal.
 
 Onde está o humor?
 
 O humor está na maneira de como o tema (o dinheiro) é tratado, tão vil e tão importante ao mesmo tempo, e sua contradição, possibilitando coisas boas e também coisas más:
 
 - Sem ele não há enterros!
 
 - Sem ele não há batizados!
 
 - Sem ele não há namoros!
 
 - Sem ele não há festas!
 
 - Sem ele não há mulheres!
 
 - Sem ele não há romances!
 
 - Sem ele não há poesia!
 
 - Sem ele não há política!
 
 - Sem ele só existe o nada!...
 
 E assim o jovem termina o interessante poema e diz também que o mundo é uma festa, mas nela só entra quem tem dinheiro (“as louras”).
 
 
 Augusto de Sênior.
 (Amauri Carius Ferreira)
 (FERREIRA, A. C.)
 
 
 
 
 
 
 
 
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