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 Sobre pássaros e promessasData 15/10/2013 15:07:24 | Tópico: Poemas
 
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 Foi numa tarde serena
 sob a árvore da galinha de Clarice.
 
 Galinha interpretada,
 pintada,
 fotografada,
 impressa
 e ainda não finalmente,
 pregada à tachinhas na árvore
 que agora significa.
 
 A árvore da galinha de Clarice,
 onde o gavião come pombos
 e outros pássaros menores
 deixando a carcaça ali mesmo
 aos pés da galinha
 mãe da árvore,
 mãe do ovo.
 
 A árvore é obvia como o ovo.
 Foi lá que o passarinho cantou
 que bem-me-via por aí.
 No claro, no escuro,
 com olhos alados de passarinhos.
 
 A revoada de outros pássaros
 e a balbúrdia multitonal
 de seus cantos dissonantes
 parece um riso solto
 sobre a acusação do outro,
 insistente,
 que bem-me-vê, bem-me-vê...
 
 Naquela tarde
 e em outras,
 nos dias que tardam
 mas não não falham.
 Os dias nos quais falhei.
 
 Errar é orgânico,
 julgar o erro é humano,
 demasiado humano.
 
 Pássaros estão sempre certos.
 Por isso o canto sai puro,
 sem culpa.
 
 Árvores também.
 Dançam majestosas
 o uivo do vento
 com a dança certa,
 sem medo de falhar.
 
 Pássaros e árvores com fé.
 Fé não costuma falhar.
 
 A galinha da Clarice
 flutua no céu-mar-azul
 dessa certeza.
 Fixada, em sua árvore,
 é para mim um recordo
 desta lição.
 
 Quando eu cruzar o caminho da árvore,
 com medo de errar,
 com medo do julgo
 e de ser humano...
 
 ... lembrarei que sou também criação.
 Como a árvore, o pássaro
 e o trabalho do artista
 que deu a árvore à galinha
 e o inverso em verso.
 
 Mesmo que de um ato
 falho,
 eu sou um fruto da criação.
 
 Estou certo,
 até o fim,
 independentemente da mente,
 da mentira
 e dos pássaros acusadores.
 
 -Vejam-me-bem! Todos os pássaros!
 Estou certo...
 Danço o vento da certeza
 enquanto a tenho em vista.
 Até que a vista canse
 e o pássaro não me veja mais.
 
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