BONECA ASSOMBRADA

Data 17/10/2013 00:32:37 | Tópico: Contos -> Infantis

(Não deixe de ouvir o áudio deste causo)

Assombração tem de todo tipe - acridite quem quisé.
A netinha da bisavó da minha muié conta que sua vizinha, Dasdor, na vrespa da quaresma ganhô uma bunicrinha deferente que mais paricia ser gente. Coisa feita cas-tecnulugia da cidade grande... De incabulá inté vigário. E só num era gente pruquê num rispirava - isso munta gente falô: - Dasdore minha fiia, mai– num -é qui parece ser de verldade!? - Ôtros condo inha chegano tapava a boca ca –mão digalope, e dizia: - Fala nada não Dasdor, fala nada não... Ocê arrumô mais minino, muié!?

Causa disso ela zelava dessa bunicrinha com capricho e cuidado. Ficava guardada nu arto da istante, infeitano a sala; Dimanêra qui quem chegasse via, mais criança ninhuma pegava. Toda veiz que dexava as minina brincá qüela, ficava pru di-perto ispiano, pramode num dexá istragá. Cabano a brincadêra pegava e guardava no mémo lugá. Já Bertulino, chefe da casa, homi das Dasdor, só oiava pr’ela prus canto; Discunfiado num incarava ela denduzói não... Num gostava da parecença dela com gente.

Certo dia, Bertulino, que era munto sistemático, notano as recramação da muié, qui disconfiô ditudocuntuá, menos da bindita bunicriquinha, tratô de agi; Pois veneno pra rato e morreu gambá, gato, pato, galinha... Pur derradêro se foi inté o cachorro campêro; Iscapô só as galinha chóca qui tava presa dibaxo do balaio - den-du-pintêro.

Terrêro limpo - restô as criança, os dois véi e essa bunicrinha. Contudo a danação continuava amolano e fazeno os véi perdê noite de sono. Condo dava dinoitizinha as panilinha era distapada e pôsto têia de aranha, areia, cabelo nu mei das coisinha de cumê. Pirtubado cum- aquilo, Bertulino ficô mêis e mais mêis tucaiano atrais da porta isperano o bicho aprontá, e nada; Inté que um dia arresorveu deitá, mais propois de num drumí. Dispois dumas trêis hora qui tava deitado, isso berano a meia noite, nu silênço profundo da viração, iscuitô um baruín vino da cuzinha, e era du fugão; Mais qui dipressa ca- fuicinha na mão correu lá pra cunfirí a disordi. Num viu nada. Mais a panilinha de arroiz foi distapada e tava quaiadinha de têia de aranha. Imbrafustado e arripiado de medo ascendeu logo a lamparina e viu qui a bunicrinha num tava na partilerinha, on-di-custume; Oiô tradaporta, den-da-caxa de rôpa, e nada. Correu no quarto e grito ca-muié: - Venânça!!!
- É a bunicrinha mês quitá infernizano nóis muié, corre cá –proce vê a teia de aranha na panela de arroiz... e ela num tá na partilêra! A iscumungada correu sem dexá rasto; Deve ter saído pru têiado, causdiquê as porta e jinela ta tu- fechada.

Venança garrô e levantô assustada, e foi vê o acunticido. Ricibiada pisava dileve atrais du homi condo viu qui a bunicrinha tava quietinhazinha no mémo lugá; Bertulino ainda mais incabulado, zói regalado e língua colada no cér da boca seca, rispirava curto di –aperto... Oiô pr’ela com zói de morte, e falô ca –muié: Aqui dentro hoje eu num drumo! - Saiu pra fora e isperô o dia crariá.

Inhantis dus minino acordá pra bebê café e saí pa- iscola, preparô um bambu cumprido cum gancho na ponta e fisgô o piscucin dessa bunicrinha - cuns braço istigado - pr’ela ficá bem longe dele; Arrastô ela pa- bandifora, apoiô ela dicacunda num pau de lenha e cumeu a bunicrinha no machado... Na premêra machadada essa bunicrinha arrumô um berrêro - danô chorá. O sujeito zói puro indoidô ca –quilo e cumeçô corrê, sem oiá patrais... Já a muié qui aquirditava munto nele dususperô veno ele na disparada e muchô atrais tamém, nem minino lembrô socorrê.

Ês num sabia. Quem deu pur certo num avisô - ó nem sabia tamém - quéssa bunicrinha tinha uma campanhinha na cacunda, e foi essa campanhinha a disgramêra qui feiz ês corrê légua.
Inté na hora da morte os dois afirmaro qui a bunicrinha era mémo assombrada, e quéla disinquietô ês inté êis mudá.

Abra o link abaixo e ouça também esta prosa no dialeto CAIPIRA... bom de se ouvir!!!

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