
Sobre o pobre B.B. (Bertolt Brecht)
Data 18/10/2013 00:28:28 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Eu, Bertolt Brecht, sou das florestas negras. Minha mãe me trouxe para as cidades Dentro do ventre. E o frio das florestas Estará comigo ao me cobrir a laje.
Na cidade de asfalto estou em casa e a caráter, Com todos os últimos sacramentos Ministrados: jornais, tabaco, conhaque: Desconfiado, indolente e enfim satisfeito.
Sou amável com os outros. E visto Meu chapéu-coco, como todo o mundo. Digo: são bichos de cheiro esquisito E digo: e daí? Também sou, no fundo.
Às vezes, nas cadeiras de balanço, Coloco algumas moças, de manhã, E digo: em mim vocês têm, eu garanto, Alguém em quem não podem confiar.
À tarde me reúno com colegas. Tratamo-nos de “gentleman”, então. Eles dizem, com os pés à minha mesa: As coisas vão melhorar. E não pergunto: quando.
Na madrugada cinza, abetos mijam E piam os pássaros, que são seus vermes. Na cidade, meu copo se esvazia, Largo o charuto e durmo um sono leve.
Assentamo-nos, uma geração leviana, Em prédios que quiséramos indestrutíveis (assim construímos os arranha-céus da ilha de Manhattan E as finas antenas sobre o Atlântico a nos divertirem).
Destas cidades ficará quem as atravessou, o vento! A casa faz feliz quem nela come: quem a esvazia. Sabemos sermos efêmeros E que depois de nós o que virá será sem valia.
Nos terremotos vindouros, que não seja meu fado Deixar por amargura o meu Virginia se apagar, Eu, Bertolt Brecht, largado nas cidades de asfalto, Oriundo das florestas negras, no ventre da mãe, tempos atrás.
Bertolt Brecht (1898-1956), escritor, poeta e dramaturgo alemão.
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