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 PrimevooData 31/10/2013 17:40:09 | Tópico: Poemas
 
 |  | Regozijai! Ah o ar puro do supremo amor! 
 Pelas calçadas megalopáticas da capital
 Caminham ainda de mãos atadas o poeta e sua musa
 
 Musa transestelar
 De poros e pensares escancarados
 Modelo e manequim irretocável de fotógrafos amadores da Vila Mariana
 
 No ponto de ônibus duas senhoras veem passar o casal
 Que estanca circunspecto subitamente para um beijo ardente
 
 Toca um telefone na loja defronte
 Rasgam os motores vociferantes pela rua mas o ósculo divino não se incomoda
 
 Sem nódoas bastardas ou cânticos de reprimenda
 A gratidão galopa destroçando a mesmice do passeio paralelepípedico
 
 Pascente beijo o emplastro de todo engodo
 Cura de toda fria obliquidade das almas
 
 Flores lumessenciais ornam a lentidão do compasso
 Ópa trepa à pitangueira a guerreira da emoção!
 Gostoso gostosinho!
 
 É vivaz meio-dia inconsternado de horários veronis
 A hora varonil funde ponteiros e descompassa a pressa...
 
 Regozijai! Ah o tempo maravilhoso da paixão confessa!
 Da paixão brutalmente sincera e perfeccionista!
 
 Anunciam-me tempestades em cada esquina
 Mas o que vejo é a promessa do arco-íris
 
 A paciência veste coroa de maduras daturas
 Uma transeunte nauseabunda cata cacas de seu cãozinho
 Crianças absortas afagam filhotes felinos às prateleiras do petshop banal
 
 Linhas de ônibus e baldeações confusas não conduzem a esta felicidade
 Tal amor pertence às calçadas machucadas do bairro velho
 Às camadas esquecidas do palimpsesto multimorfo
 
 Há guerras e produções cinematográficas multimilionárias em andamento
 
 Mas ali
 A três passos do ponto aleatório e suas duas senhorinhas desmoralizadas
 De frente ao comércio deserto cujo telefone ninguém atendeu
 
 Ali o poeta e sua musa
 Estancam o passo e se beijam
 
 E o universo deixa de rodar
 Os oceanos cessam o agitar
 Pombos e pássaros sortidos congelam ao ar
 
 Na palma da mão de Deus
 Que diga-se de paragem nunca precisou de Nietzsche para amar
 No fluxo freado em velocidade de milagre
 
 O beijo estala molhado
 Olhares de indescritível ternura se entrelaçam
 O dia cai e o mundo se esvai e se repõe em duas dúzias de segundos
 
 A meditação completada
 Tornam abstratos ao trânsito
 Pitando sal sagaz na rotina destemperada...
 
 Regozijai! Ah o ar puro do supremo amor!
 Abençoados artistas da emoção
 Esculpindo e polindo o marmóreo magma do coração!
 
 Contemplar a vida e a criação
 Abraçar a Deus
 Entregar-se à redenção.
 
 É uma nova eternidade respirando afoita
 A borboleta ri seu riso visceral
 As senhoras relembram sonhos de outrora
 O asfalto ruge e o sol atravessa o cinza da segunda-feira parametral...
 
 Regozijai!
 Alika Finotti
 
 
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