É Natal

Data 02/01/2008 17:10:47 | Tópico: Prosas Poéticas


A neve chegou, e com ela parou-se a vida. Tempo de meditação, suspenso no ar frio da manhã que se avizinha. Cessaram os ruídos e tudo lá fora adormeceu. Saio do casulo, deixo o corpo para caminhar sobre a terra gelada. De alma solta deixo o vento envolver-me e transportar-me por entre os galhos despidos das árvores.

Ao longe o fumo quente solta-se da chaminé duma cabana perdida na floresta. O rio, quase gelado serpenteia por entre vales e do céu toldado de nuvens desprendem-se flocos de neve. Sente-se a paz, a tranquilidade deste suave amanhecer, a alma repousa das agruras da vida embalada por este momento. Escuta-se ao longe os sinos a anunciarem as cerimónias, e aqui no alto da serra o silêncio voltou a instalar-se.

É Natal, e por instantes descubro a verdadeira essência deste tempo, ao ver-me de novo menino, na inocência de um corpo jovial, mente virgem, sentimentos puros, aguardando com frenesim pela prenda desejada, pela felicidade de estar em família, pelo prazer de partilhar o carinho, de alegrar a alma, confortar o corpo no calor ameno da minha pequena casa.

Nesta pausa, entre um ano e o outro, desejo-vos a vontade de ser outra vez crianças, encarar o mundo com a inocência de outros tempos, para assim entender melhor a essência deste tempo, perceber porque se nasce agora.


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