
Ao S. Jerónimo das Belas-Artes em Lisboa
Data 04/11/2013 12:51:53 | Tópico: Poemas
| Porque fitas tu a morte como se olhasses a Vida no firmamento?! Sempre a repensar, sempre a remoer ... Aí, estático, incolome, parado, permaneces a meio-do-tempo, frente à morte! Qual "esfinge" adormecida, imponente no deserto - em espera! Estranho suspense em que te encontro. Gelado pensamento que te possui.
Passar a Vida a pensar na morte é coisa imensa, mas esquecer na morte de viver a Vida é coisa pouca, loucura intensa, coisa triste, oca, intima doença! Porque a morte é Vida afinal!
E assim estás! Possuido pela morte sem Vida, "condenado" a uma Eterna Vida morta ... Que angustia! Que desespero ... Eternamente prisioneiro do pensamento! Assim os Deuses o ditaram - teus falsos Deuses! Que triste Fado o teu! E porque te vejo e sinto, quando passo, que triste Fado o meu ...
Estarás tu Eternamente morto em Vida, numa eterna Vida morta?! Sinto-te sepulto num espaço que parece curto, espaço esse, entre teus olhos e os da morte. Espaço tão imenso, afinal, onde cabe a eternidade ... Espaço que já outrora me possuio! Lugar onde me espelho ainda em reflexo d'águas fundas quando te vejo.
Meu eterno espelho ...
Quando entro e te vejo ao fundo, sinto penetrar um imenso corredor, espaço entre Vidas, e tu, a morte p'ra quem caminho! Mas quando avanço, te fito e por ti passo, esvai-se o medo, sinto que a morte nada é, porque o espaço depois de ti, ó morte, é aberto e luminoso, onde sempre brilha o Sol ...
Levanta-te e vê! Vê o que há atrás de ti! Vira o rosto por instantes... Vê que depois da morte, sempre vem a Vida, porque na Vida do Universo, não há Vida sem morte, nem morte sem nova Vida! Pois nada do que morre, morre sem renascer, e nada renasce, sem tornar a morrer - tens medo?!
Que pena! Perdeste a Vida a pensar na morte pela eternidade fora e tens medo agora de encarar a Eternidade da Vida!
A morte é a outra Face da Vida!
Acorda! Há tempo ainda! Larga a "esfera" que te consome! Porque depois desta Eternidade, outra Eternidade te espera ...
Ricardo Louro
na Faculdade de Belas-Artes, no Chiado, em Lisboa.
|
|