“nunca me acostumei pelos lugares a onde andei “

Data 27/11/2013 09:34:14 | Tópico: Poemas

Já sinto a vibração da carruagem sobre os carris, o comboio está a chegar para me levar até á aldeia dos meninos que fazem chichi á vontade …vou ficar um tempo afastado desta nascente que é o Luso …

Recordo a primeira vez que entrei aqui, alguns anos atrás , usava como nick o Agniceu. Meu objectivo nessa altura era claro, escutar, sentir poesia, contempla-la, acho que até um certo momento consegui…

Depois deixei que a emoção e as palavras se misturassem, assim a fragilidade da sensibilidade restaurou a necessidade de amar e comecei a sentir uma afinidade por alguém... ultrapassei a fronteira que divide a razão do coração e me afastei ….

Mais tarde regressei para dar voz a dor de uma pessoa que já sofreu tanto nesta vida…

Como estes poemas aqui escritos dizem:

Aqui a alma estragada se zanga…
Na esperança de chorar água e não sangue

Aqui a mascara sorridente se queima

Aqui o grito se agasalha na dor velhinha
de uma criança

Nesta fonte, reflectindo centenas de rostos
me escondo
Para não violarem a única coisa que falta,
minha alma zangada

Aqui digo que perdi um filho da forma mais horrenda
E me roubaram um outro da forma mais desumana …
Num ninho com grades de feno
E abutres lá dentro …

Para vocês o que escrevo é arte,
Para Deus são lágrimas que ardem de um inferno que não era meu …




Sempre desconheci a magreza das lágrimas…

Nasci a morrer dilacerada …
Ganhei rugas de infância …
Foi costurada
Enjaulada num berço de ilusão …
Trespassaram me a pele muito antes de conhecer
As carícias das mãos …

Silenciaram meus gritos
Na forma mais cruel…

…muito antes de ser criança,
Deram me a liberdade de ser escrava.

…muito antes de conhecer o reflexo,
Conheci o medo de ser gente…

Muito antes de brincar, brincaram comigo…

Sem saber falar, solucei…

Sem fôlego solucei…

Até adormecer…sem poder gritar




Depois…. Aconteceu... ultrapassei a fronteira da razão e me apaixonei por uma alma …que ainda hoje amo, essa alma diz que já não acredita e nenhuma palavra minha….
A verdade é que tenho dezenas de heterónimos espalhados aqui no luso, para falar do meu amor por ela … mas a verdade é que nuca soube estar, sabendo estar num lugar de poesia … “nunca me acostumei pelos lugares a onde andei “

Hoje digo um até já ….

Sejam felizes, e chegou a minha altura de escrever a melhor poesia de todas, a poesia da vida nas jornadas diárias, junto à cumplicidade da Natureza, Um presente sempre presente que Deus nos deu como prova incondicional do seu amor …



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