Ameba e Giárdia
Data 10/01/2014 22:18:40 | Tópico: Poemas
| AMEBA E GIÁRDIA Épico
I
Diminua a velocidade, Parasita, Quero respirar o ar de Úrsula Maior... Nestes prados e bosques não há o pó Que desnutre o sonho de uma sabedoria infinita.
- Vossa Majestade sabe que o perigo Reina nos desertos de qualquer imensidão, Que não se deve fincar os pés num chão Onde não se tenha pelo menos um amigo.
- Eu sou Ameba, Rainha do Cruzeiro do Sul, A atmosfera me rende o mais fiel respeito. Druds será a conquista de um plano perfeito, Para que se possa entender a natureza do Planeta Azul.
- Não vejo com bons olhos essa sua ambição... Desejar conquistar um orbe repleto de violência, Em que seus indivíduos perderam a consciência E se matam entre si sem a mínima compaixão.
- Estacione! Preciso de contemplar esta paisagem, Purificar meu olfato para uma batalha fria, Confabular com meus deuses sem a agonia Das mentes que tentam boicotar minha coragem.
- Druds está próximo, Majestade! Veja, acolá! Giárdia, sua irmã, há de recebê-la bem, Afinal, trazemos a inteligência que ela só tem Quando reconhece que no Cruzeiro do Sul está seu lar!
- Ótimo, Parasita! Ameba desce aqui e sozinha, Não quero ser interrompida em minha reflexão, O trono de Druds foi concedido à Giárdia pela paixão De um duende e essa região precisa de ser minha.
Ameba abandonou os degraus de sua nave, Pisou firme numa areia fofa, meio movediça, Caminhou atenta entre arbustos que enfeitiçam O pensar maquiavélico da certas personalidades.
Andou... andou... sem mirar seu destino, De repente viu-se perdida numa estação árida... Sim... surpresa! Diante de si estava Giárdia Que não compreendia a razão deste desatino...
II
- Quê fazes por aqui, donzela ? Estás perdida ? Acabas de invadir um espaço que agora é meu... O último intruso que aqui esteve morreu Ferido pela lâmina de minha espada dourada e temida!
- Não é possível! Como conseguiste este feito? Teu exército naufraga na incompetência e é pobre... Eu sim, sou a maravilha das galáxias, sou nobre E minhas aspirações são projetos sem defeitos...
- Hum! Quanta arrogância nesta minha irmã! Até se esquece que não sou eu a bastarda... A justiça dos deuses nem falha, nem tarda E perante minha ótica coloca a sabedoria anã...
- Tu és a traidora! Deixaste-te possuir por um duende Que se apossou de ti com ímpetos de magia, Que te segrega a saudade, faz de tua solidão nostalgia E em tua tristeza constrói uma felicidade aparente!
- Como estás enganada! Druds é o paraíso das inteligências, Lá estão adormecidos os gênios do Planeta Azul, Sei que é isto o que buscas com teus vodus Que te permitem navegar nos mares das inconsequências!
- Ponho o passado de lado, esqueço as ofensas Caso me dês a ventura de comigo compartilhar Deste santuário que Druds congrega do mar Da sabedoria terrena que lá dorme tão intensa!
- Eis que agora me propões a seara do absurdo! És minha prisioneira, rainha das horas incertas, Destinar-te-ei ao arcabouço das pseudo espertas Até desvendar de ti este segredo que me é oculto.
Parasita estranha a demora de sua rainha E vai à sua procura pelos bosques desconhecidos, Ouve vozes abafadas em seus apurados ouvidos E descobre que havia chegado ao final da linha.
Ameba fora algemada por correntes de prata, Giárdia gargalhava de sua cruel desventura E a internara nos porões das ingratidões impuras Para ser jogada em precipícios de fatais cascatas!
III
Giárdia se concentra, chama pelo seu duende Que com seu feitiço teria o poder de decifrar O silêncio em que Ameba guardava em seu tear De mulher astuta e que a tornava tão diferente.
O duende surge perante as incertezas de Giárdia E mostra em visão o Cruzeiro do Sul tomado pela peste, Giárdia se condói diante daquela ótica inconteste E vai aos porões onde aprisionava as desgraças.
- Estou aqui novamente, Rainha perversa e insana, Sei do teu real propósito nas estradas do espaço, Teu povo agoniza sob a imprudência dos teus braços E tu te aproveitas da ambição e os deixa na lama!
- Só em teu reino há a esperança da grande cura, Pois, que lá dormem gênios únicos capazes de dissipar A enfermidade que grassa em meu patamar Que são as inteligências humanas sequestradas em tuas aventuras.
- És aproveitadora do destino de súditos inocentes E queres juntar o útil ao agradável em tua jornada, Só na mente do homem é possível tocar-se esta sonata Para pôr um fim no sofrimento de tua gente.
- Então ? Abre teu coração para um povo sofredor E permite-me comigo levar tão sonhado antídoto, Assim ficará provado que não tens íntimo bandido E que és capaz de uma atitude de amor!
- Falas-me como se eu desconhecesse tua astúcia, Queres não somente a receita, mas também meu reino, Mas não te permitirei pôr os pés em meu celeiro Nem de usares da usura com tua argúcia.
- Livra-me destas correntes! Meu povo tem pressa, Façamos um acordo real diante de nossos mundos, Ofereço-te parte de minha riquezas de valor profundo E muito mais de acordo com o que me peças.
-Assina este papel em que exijo que abdiques Do teu reino para que eu possa o Cruzeiro do Sul governar, Depois te libertarei noutras esferas e erigirei um altar Em tua honra para que esquecida do povo não fiques.
IV
Ameba chorou sua vergonha perante sua assinatura no papel, O tiro houvera saído pela culatra de sua ambição, Perdera o reino e sua dignidade deixada naquela porão Tornara sua vida um esdrúxulo pacote de fel.
Giárdia a libertou nas dimensões rochosas do nada Onde não havia sol e a lua era apenas um sonho, Parasita soube que seu destino medíocre e tristonho Era castigo dos deuses às aspirações desenfreadas.
No Cruzeiro do Sul a epidemia teve um fim E Giárdia coroou-se a si mesma perante a multidão, Porém os dias e as noites trouxeram grande aflição À Majestade que governava com austeridade e era ruim.
Parasita percorreu todas as veredas da atmosfera E um dia localizou Ameba debruçada num penhasco, Tomou-a nos braços e a fez reviver passo a passo Cada centímetro dos desafortunados desejos que havia nela.
- Levar-te-ei a uma audiência com Amarelão Que se tornou rei em Úrsula Menor recentemente, Trava com ele um pacto que seja decente, Porque teu povo sarou, mas vive em constante insatisfação.
- Tenho planos que farão Giárdia cair num abismo E teu cetro emoldurará outra vez tua cabeça. Contudo é fundamental que sejas humilde e não te esqueças Que depois de tudo consumado quero que cases comigo!
Ameba sorriu sedutora e prometeu consentimento, Casar-se-ia com Parasita e faria uma festança, Todavia antes necessitaria de empunhar sua lança E destinar Giárdia para sempre ao rio dos tormentos.
Amarelão recebeu Ameba com intensa pompa E a fez sentir-se Majestade diante de sua dinastia, Pedia à Tênia, sua secretária, que anotasse com euforia Todos os detalhes de um acordo que a deixou tonta...
Parasita iniciou-se na execução dos seus planos E se passou por enamorado pela secretária de Giárdia, Bactéria, Assim desvendou sigilos que seriam a futura miséria Daquele reino apócrifo, covarde e deveras desumano...
V
Epílogo
Amarelão contatou Giárdia e sugeriu negócios, Ela o visitou em Úrsula Menor sem nada desconfiar, Pôs sua assinatura em pactos de noites sem luar E em dias de sol azedo para desfrutar do ócio.
Imensas dívidas Giárdia contraiu, com efeito, E Parasita roubou segredos com falsos beijos, Bactéria lhe entregou as chaves de todos os espelhos E o Cruzeiro do Sul caía diante de objetivos perfeitos.
Dia após dia os cofres de Giárdia ficavam vazios E até sua coroa de ouro teve de ser penhorada, De repente se toca que não possuía mais nada E o povo, com fome, causava em si fortes arrepios.
Grande tumulto assanhava a população em frente ao castelo E uma chuva de pedras quebrava das janelas, os vitrais... Exigiam alimentos e como selvagens e famintos animais Invadiram aquele palácio, mas só encontraram farelos.
Giárdia fugira atônita em busca de socorro Chegando em Úrsula Menor à procura de Amarelão, Foi surpreendida por Ameba que cantava no salão A sua desdita em labaredas de alto fogo!
Tentou dali escapulir, no entanto foi presa por correntes de aço E levada sem piedade ao rio de todos os tormentos, O duende apareceu e disse ter modificados os sentimentos Porque fora vencido pela decepção e pelo cansaço...
Ameba foi ovacionada pela alegria do seu povo E subiu ao trono distribuindo felicidade e fartura, Sede de amar era agora o lema de sua aventura E transformar seu reino para tudo parecer lindo e novo!
Amarelão segurou a mão de Ameba levando-a ao altar, Tênia empurrou Parasita para bem diante dos deuses, Partiram rumo à lua de mel debaixo dos adeuses Que acenavam ventura para as conquistas de além-mar!
Por herança Druds caiu sem equívocos em suas mãos E o Planeta Azul trouxe em si o doce devaneio De adquirir o conhecimento humano que veio Ratificar a metamorfose que se operara em seu coração!
FIM
|
|