ANTES QUE O ACASO PASSE POR AQUI

Data 22/01/2014 19:12:58 | Tópico: Poemas -> Reflexão

ANTES QUE O ACASO PASSE POR AQUI

Arranha-me,
Como o raio arranha o céu
E depois se esconde,
Não sei onde.
Não faça assim:
Arranha e apareça.

Corta-me,
Como faca afiada
E depois perde o corte
De tanto ferir minha pele.
Acaba por se desgastar,
Nessa troca nos dois perdemos.

Fere-me,
Como queda na pedra.
Sinta prazer
Das minhas cicatrizes.
Vai durar nada seu prazer,
Elas irão logo acabar.

Queima-me,
Como ferro que marca o gado.
A memória guarda as marcas;
A pele rejeita a dor.
Delicie-se das marcas da dor.
As dores e as marcas acabam.

Lambe-me,
Como a abelha lambe a flor,
Na busca do puro mel,
E em cada lambida,
Me busca e me adoça,
Me arrebenta de amor.

Espia-me,
Com o olhar de quem busca
Claridade no fundo das águas perdidas;
Último ponto do infinito, depois do finito;
Talvez o silêncio no grito calado;
Talvez nada. Busca-me assim mesmo.

Caça-me,
Como retas procurando curvas;
A claridade parindo o escuro;
Linha mágica que finda o dia e cria a noite;
Olhos imaginários que definem a vida,
E encontre-me antes que acaso passe por aqui.


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=262276