Nem tudo estava fadado ao total fracasso

Data 25/01/2014 00:50:27 | Tópico: Poemas


Eu não posso explicar
o que é orientar um bando de gralhas
em corrente migratória
por mais da metade do mundo.
Refrescando-se nas glórias ululantes
de uma primavera glacial
travadas as asas já cansadas
farfalham no quase azul do céu.

Talvez não devesse resistir,
talvez devesse meditar mais,
voltar a derramar lágrimas
como o aljôfar do orvalho da manhã
nas folhas tenras conjecturadas
ao longo da rodovia congestionada.

Talvez devesse rir
apenas numa janela de âmbar
lendo anúncios sobre marca de cigarros
entre depósitos de brasas e cinzas,
quando a primeira neve cai sem enfurecer o rio ...

A bordo de um transatlântico posso morrer
deixando ao abrigo dos escaleres
desanuviadas visões transcendentais.
Mas, se você não se importa,
nada importa mais,
o riso fácil perde o sabor da luta
e se acaba com o avançar da idade,

É neste mar livre de ponderações fúteis,
nestas águas tão azuis que vou morrer.
São úmidas e sem flores, sei que não se importa,
nem se preocupa se haverá caos nos vasos,
derivado das raízes que tenho lá na terra.

É por isso que vejo sonhos
diluindo-se cada vez mais longe.
Protegendo-me, procuro abrigos habituais,
afastado dos sons industriais
inacessíveis à visão de todos espectadores.

Se nem tudo estava fadado ao total fracasso,
sei que entre a marujada engajada a bordo,
há pessoas sinistras, há inteligentes; há coxos,
mas pode ter sido falha do meu ponto de vista.



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