O Verdadeiro e o Falso (Albert Camus)

Data 11/02/2014 10:28:56 | Tópico: Textos -> Outros


A primeira diligência do espírito é a de distinguir o que é verdadeiro do que é falso.

No entanto, logo que o pensamento reflete sobre si próprio, o que primeiro descobre é uma contradição.

Seria ocioso procurar, neste ponto, ser-se convincente. Ninguém, há séculos, deu uma demonstração mais clara e mais elegante do caso do que Aristóteles:
"A consequência, muitas vezes ridicularizada, dessas opiniões é que elas se destroem a si próprias".

Porque, se afirmarmos que tudo é verdadeiro afirmamos a verdade da afirmação oposta, e, em consequência, a falsidade da nossa própria tese (porque a afirmação oposta não admite que ela possa ser verdadeira).

E, se dissermos que tudo é falso, essa afirmação também é falsa. Se declararmos que só é falsa a afirmação oposta à nossa, ou então que só a nossa e que não é falsa, somos, todavia, obrigados a admitir um número infinito de juízos verdadeiros ou falsos.

Porque aquele que anuncia uma afirmação verdadeira, pronuncia ao mesmo tempo o juízo de que ela é verdadeira, e assim sucessivamente, até ao infinito.
Albert Camus (1913-1960), Escritor, Novelista, Ensaísta, Compositor e Filósofo, in "O Mito de Sísifo"



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