Ironia

Data 22/02/2014 13:41:07 | Tópico: Poemas

Se te dissesse uma palavra, contrapunhas?
Se te olhasse, recusavas desviá-lo?
É que o silêncio cansa e o escuro cega. E estou cega, não consigo mais distinguir uma palavra sussurrada baixinho vinda de uma memória, ou grito lançado de um ataque ao inviolável.
Sinto-me rasgada. Sinto-me deteriorada por tudo, de um conjunto de nadas que pesa.

Se te levantasse os lençóis da minha cama, deitar-te-ias nela?
Se te contasse um segredo, sorririas em confidência?
Se te pegasse na mão, prometerias deslizar os teus dedos nos meus?

Chegou um tempo em que as horas não são horas, são marcos de obrigações.
Chegou um tempo em que ser forte não chega, degenera até.
Chegou um tempo em que a imaginação de um toque de um alguém sem rosto concreto ou até de um nome legalizado não consola.
Chegou o tempo em que ser criança já passou de tempo.

E que sou eu para lutar contra o tempo, quando foi ele que me criou e é ele que me condiciona, destina?

Ironicamente, eu não acredito no destino, acho até que é uma ilusão que o próprio tempo criou num tentativa de regular um mundo que não aceita ser regulado.

Se te dissesse para te afastares, continuarias na berma do meu corpo, sentindo o meu calor? É que como o mundo, recuso ser regulada, mas anseio-o tremendamente, num necessidade que não aceito.
Viola-me, então. Desregula-me sem eu querer.

Lau'Ra



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=264312