Necrophilia
Data 11/03/2014 20:13:37 | Tópico: Poemas
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Hoje acordei com você. Com o seu gosto em minha boca depois do beijo onírico.
Nem a minha mais inspirada imaginação de possuir-te, (no passado que eu julgava remoto) seria tão lucidamente viva e tátil como foi o teu beijo no sonho.
Eu, que quando acordado tenho beijado bocas abençoadas e praguejadoras, bocas de profetas e bruxas e anjos caídos, com volúpia, saliva e lascívia, nunca, até então, havia sentido a razão pela qual se beijam os seres.
Naquela cama inventada da cabana sonhada minha boca sutil aprendeu com a sua uma alquimia universal.
Ah, sonho dos círculos sem fim! Sonhos de beijos místicos de desenterrar os mortos que eu mesmo matei.
Eu te matei com um poema. Enterrei-te embaixo de 7 versos, soterrado pela terra da minha negação em matar-te, amando-te, e aos teus olhos.
Seu corpo seria dos vermes que fartariam-se de prazer em tuas carnes tenras nunca tocadas por mim.
Ó reencarnação do meu platonismo! Ó lembrança fútil dos meus ideais românticos, tão surrados e rotos!
De que inferno viestes trazendo a tira-colo todos esses demônios em sua saliva?
Cá estou, comungando com mortos ressuscitadores de desejos.
Eu não te quero! Beije-me. Desapareça como lembrança! Venha me ver hoje à noite também. Te espero com minha pena em punho, matar-te-ei novamente com versos ainda mais violentos e te enterrarei em terras mais profundas, nos abismos do meu inconsciente.
Vou te esperar dormindo. Beije-me. Salve-me de ti.
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