chorar por dentro...

Data 14/03/2014 11:30:46 | Tópico: Poemas -> Saudade


Despedaça-se a madrugada
cinzenta e silenciosa
ouve-se o sino, depois a chuva prodigiosa
à distância cantam as ondas, os pinhais,
choram as crianças, os pássaros inquietos,
porquê vos inquietais?

As ruas estão escuras
meus sonhos sombrios
tantas são as agruras,
falai criaturas! Das tristezas
das incertezas, mas falai!

Como eu entendo cada vosso ai
quisera saber responder-vos
pondo o sol nos vossos olhos
libertar-vos da angústia
dessa vida que é feita de abrolhos.

Já clareia a madrugada
vive a vida, que a morte está certa!
A vida na tua mão é triunfo, é taça
passa breve, logo passa,
e a morte, é o morrer sem glória,
é um dia que se extingue,
é o tempo apodrecido
onde tudo fica adormecido.

Ouço os sons agora do amanhecer
já não chora o sino nem as crianças
nem os pássaros estão inquietos,
só as folhas a estremecer
o rio a correr,
e eu menina com sede de tempo
olho a aurora que clareia
lanço o cinzento ao esquecimento
e vivo, como uma recém nascida
a ver de novo nascer flores azuis
de Abril
sonhos que tinham sido vida
voltam de novo com suavidade
sob o orvalho da minha saudade.

natalia nuno
rosafogo



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=265570