Querer-me-ia Ave morrendo em pleno voo [algumas vezes]

Data 17/03/2014 20:00:39 | Tópico: Poemas

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Construo as grandes muralhas do crepúsculo
Pelas tardes dos absortos dias além de ti
Tudo se contempla dos altos imaginários
Agarrando estrelas ou o breu que as envolve.

Pelo teu ventre desnudo-me destecendo rosários
E mesmo que me sosseguem visões
Regressam sempre as paragens mais distantes

Nem sempre sei o que busco. Sangue que
Não para de corroer as veias gastas
De vez em quando brilham noites desconcertantes
Mundos atropelando-se alguns parados
Pelos abismos
Onde mar e vento sossegam por fim. Delírios
Bruscos em bruto dos passos que tropeçam
No vagar acidentado do caminho
E se a imaginação extravasa horizontes
Linhas distantes inertes
Amarro esta âncora aos meus pés.

Estáticas asas que murcham
Símbolos sem nexo desfiados
Defasados da morte cega mesmo que me digas
Do piscar do olhar protegendo-o das visões. Querer-me-ia
Ave morrendo em pleno voo [algumas vezes].

Talvez um dia descubra a corrente marítima
Que me empurra
Ou o magma que me atrai

Coberto pela terra quente
Deste mar.

Existirão sempre
As palavras revisitando-me.


(Ricardo Pocinho)



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