Já não posso ser meu herói

Data 21/03/2014 13:15:17 | Tópico: Poemas

“ Eletra vi de heróis na companhia,
Enéias com Heitor e guarnecido
Grifanhos olhos César nos volvia.
Pentesiléia vi e o rosto ardido
De Camila, e sentado o rei Latino
Junto a Lavinia estava enternecido.”

A Divina Comédia – Inferno – Canto IV







Não me assusta que à meia-noite o ídolo seja transformado em sapo,
nem que o mundo inteiro seja mesmo governado por uns filhos da puta.
A vida prossegue... Viver é submeter-se a um tribunal injusto, é labuta,
tribulações, angústias meio à confusões, alma é sempre é um farrapo.

Não sei mais quem são os amigos, nem mesmo entre estranhos na rua,
continuo sempre vendo a imagem de meu pai na moldura sem espelho,
atravesso e volvo dos ecos do passado. Entre agruras, a vida continua;
e viajo veloz, para onde haverá um novo amanhecer, um sol vermelho.

Se não posso ser quem já fui, com certeza não posso ser meu herói,
coisas difíceis sempre povoaram a mente humana, haverá a crença
no poder de um novo amanhecer. Venho a vocês sem ser convidado...

Saibam que se me comporto de forma estranha, em mim isso dói;
se sou indesejável, haverá quem poderá me perdoar a presença.
Afinal, no mesmo caminho, também em sapo serei transformado.





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