Sorte de principiantes

Data 16/04/2014 19:45:30 | Tópico: Crónicas

Adolescentes pescando

São Paulo, 1963 Uma tarde, batendo papo, o Mauro, o Marcos e eu, combinamos nossa primeira pescaria, para o dia seguinte.
O Mauro era o mais velho, com quinze anos, eu, com treze e o Marcos com 12.
Onde pescar? Na Represa Billings, uma represa linda, cheia de bons peixes, mas bastante distante de onde morávamos.
Que isca levar? O Marquinhos falou de levarmos capim-gordura, que as tilápias gostavam, e aí virou piada, pois o seu sobrenome era Coelho, mas ele estava tão sério que topamos levar uma sacola cheia de capim, além de larvas, massa, minhocas e tudo o mais que achamos contribuir como isca ou ceva.
Combinados! Sairiamos de casa às 5:30, pegando o ônibus para o Parque Dom Pedro II, de onde sairia o outro às 06:15h para o Alto da Serra. Combinados, mas...
O primeiro ônibus atrasou uns quinze minutos, fazendo com que perdêssemos o horário do outro, que já havia partido.
Ficamos ali, cheios de capim e de vontade de pescar, pensando. Esperar até 10 horas da manha pelo próximo, ia ser complicado... Haveria outro ponto de pesca?...
Perdidos em nossas elucubrações, não vimos uma Kombi chegar. Por sorte o motorista gritou:
- Lotação para o Riacho Grande..., Lotação para o Riacho Grande...
Lá fomos nós. Embarcamos perua lotada de pescadores, que, por nossa inexperiência patente, começaram a rir de nós.
Um, olhando nossa sacola, dizia:
-Vão fazer salada? Preparados para o almoço?
O outro emendava:
-Vão pescar bodes?
E assim foi durante o trajeto. Todos rindo muito de nossa isca.
Ao chegarmos na represa, o pessoal se espalhou, enquanto nós, adolescentes, nos juntamos em um ponto que escolhemos, e fizemos a ceva com um feixe de capim, que amarramos na ponta de uma vara comprida. Jogamos mais algum farelo por ali, e fomos preparar a tralha.
Logo percebíamos o movimento dos peixes no capim.
Iscamos com uma folhinha do próprio capim, lançando-a com o auxílio de uma pequena bóia, ao lado do feixe, e logo víamos a linha correr. Mais uma boa tilápia.
Os outros pescadores, enquanto isso, só pegavam pequenos peixes, e se aproximaram um pouco, mas não tinham a nossa “técnica”, e não obtiveram resultados.
No retorno, na lotação, nosso samburá estava cheio de tilápias, todas na média de 900g a 1k, enquanto os demais tinham pouquíssimos peixes, todos pequenos.
A brincadeira virou...
Começamos a perguntar se eles não gostavam de tilápias grandes, se as panelas que dispunham em casa seriam pequenas, e coisas assim, mas logo percebemos que era melhor o silêncio, pois alguns pescadores ficaram muito revoltados com a nossa “sorte”.
E foi pura sorte, mesmo...
Sorte de principiantes!



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