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 LÁ, EU ERA FELIZData 18/04/2014 22:29:44 | Tópico: Poemas -> Desilusão
 
 |  | LÁ EU ERA FELIZ 
 Quando nasci, já era um sem abrigo.
 Apareci cá fora todo nu, todo sujo,
 Sem dentes nem cabelo, um velho.
 Todo enrugado, não via, e chorava.
 Pois que alguém de maus instintos,
 Deu-me duas palmadas no rabo.
 Chorava da minha pouca sorte
 Aparecer no mundo para meter o bodelho.
 Alguém teve pena de mim
 E com carinho me levou para o banho.
 Outra pessoa bondosa, me trouxe roupa.
 Mas cabelos e dentes... nada!
 Nada havia à minha medida.
 Outra veio depois para me dar a comer,
 A beber... a beber leite nada de sólido,
 Devido à minha fraqueza, era perigoso.
 Deram-me guarida e lá fui vivendo
 E mudei muito, podem crer!
 Engordei, era mais pesado, e maior,
 É giro, não é? Como podemos mudar
 Se nos tratam bem e é importante,
 Se nos respeitam como somos,
 Sentimo-nos alguém.
 Comecei a ver e tudo era lindo.
 As pessoas que me rodeavam
 As pessoas que me acarinhavam
 As cores variadas das flores,
 O perfume que elas exalavam.
 Diziam-me que eu era bonito,
 Que era parecido com o meu pai.
 Ah... não! Ele parece-se com a mãe!
 Eu ouvia tudo isto e era feliz.
 Com o tempo vi que fui enganado
 Nada era lindo, As flores murcharam
 O perfume, ai o perfume... desapareceu.
 Não havia sinceridade, mas hipocrisia.
 Que não havia paz mas sim guerras.
 Que muitos tinham voltado
 Para a mesma maneira de viver
 Como eu vivi, eram sem abrigo,
 Sem higiene, sem nada para comer,
 Sem casa para viver, sem felicidade.
 Não, não quero viver num mundo assim
 Deixei-me voltar para donde eu vim,
 Lá, eu era feliz!
 
 A. da fonseca
 
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