Passeio Astral
Data 20/04/2014 04:13:17 | Tópico: Poemas
| Tarde de calor intenso, Sufoco-me dentro de casa, Suor em abundância... Retiro-me, descubro o jardim E me sento à mesinha Debaixo de frondosa árvore. Brisa fina acaricia-me o rosto, Meu pensamento navega no sonho... Meu olhar só enxerga a reflexão Que a mente põe em órbita... Sentado numa compostura nobre, Apoio o queixo às mãos E viajo numa asa-delta imaginada, Singrando os ares e penetrando Dimensões insondáveis do intelecto... Êxtase sancionado pela vontade De ver-me executor de sonhos impalpáveis, Mas perfeitamente cabíveis à razão... Vou em busca das idealizações Que me produzo circunstancialmente Todos os dias e me vejo carregado Por uma força estranha, totalmente Alheia ao meu comando... Neste instante estou nas alturas, Contudo me acanho em vislumbrar abaixo... Estou cercado por nuvens densas, A visão obliterada por um ar rarefeito, Os tímpanos meio febris, Sacolejados por fortes explosões Numa travessia curta, Porém condicionada à aparência De um tempo disforme e longo... Finalmente deixo para trás tais sentidos E me desvendo numa paisagem nova, Desconhecida dos meus talentos... Agora já me permito à ótica inferior E o mundo se coloca à disposição Para que eu pesquise meus devaneios... Tudo consigo olhar sem obstáculos. As respostas mais ousadas, Tenho-as diante de mim... Nada me escapa, apreendo em detalhes Os pergaminhos da vida, leio-os E compreendo o porquê das distâncias, As razões das ausências, os motivos Que afastam dos meus planos As realizações mais urgentes... Os seres dos quais gostaria contemplar Se mostram inefáveis à minha conquista, Dispersam-se envergonhados da minha presença E se acoplam em labirintos escuros, Intocáveis aos meus sonhos... Percebo-me meio perdido e confuso, Noto estrelas que não sorriem, Fecham-se numa fisionomia grave Como se estivessem a expulsar-me De um território momentaneamente invadido... Descubro-me intruso de uma peripécia Talvez não aprovada pelo infinito... Levo as mãos à boca para não gritar E dos olhos caem lágrimas pungentes... Retrocedo, tento o caminho de volta E sou empurrado por brusco magnetismo Que me devolve às nuvens densas... Como que bailando no espaço, Avisto-me nos degraus da descida E logo retomo a consciência material... Perante o ego reconheço-me interlocutor Implacável dos quesitos que me levaram A tão conturbada jornada... Não a pedi... Não a roguei... Nem a pensei... Chegou-me de forma sorrateira, Todavia em meu íntimo ressabiado Perpetuam-se os frutos das minhas interrogações... A partir do já tenho de remodelar conceitos E esperar da existência a concretização de sua vontade!
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