| |  
 
 No comboio da uma e oitoData 27/04/2014 00:14:12 | Tópico: Poemas
 
 |  | (Devaneios no último comboio para Sintra) 
 ___
 
 
 Menina que sais no Cacém,
 rosto de aguarela,
 em que pensas tu tão bem
 sentada a essa janela?
 
 Indiferente ao exterior,
 que levarás tu dentro de ti:
 será paz, será dor?
 Pergunto-me desde que te vi.
 
 Todos os dias o mesmo lugar,
 um banco que já parece só teu.
 Será que levas a alma a chamar
 por algo que em ti morreu?
 
 És bela, com certeza,
 mas uma flor no deserto.
 Mantem a alma acesa
 para o céu ficar mais perto.
 
 Se a alma sonha voar,
 que do teu coração brote
 um céu para te guiar,
 um ninho que te conforte.
 
 Se há algo que pretendes,
 busca-o - até na morte,
 porque a força a que te rendes
 é a do teu sonho mais forte.
 
 Tens rosto de menina,
 tristeza de mulher.
 Procura a medicina
 que o teu coração quer.
 
 Talvez um dia fale contigo,
 talvez um dia me oiças.
 Talvez encontremos abrigo,
 descubramos o sentido das coisas.
 
 Moça de olhos de água,
 se estás no peito a chover,
 para além das núvens de mágoa
 há sempre um sol a nascer.
 
 São quatro da manhã
 de uma já longa segunda-feira.
 Que tens tu em ti, hã?,
 que me desperta desta maneira?
 
 "Phones" nos ouvidos,
 olhos na paisagem.
 Procurarás sentidos
 para esta humana viagem?
 
 Se calhar sou eu tonto,
 se calhar és feliz no fundo.
 Saberia isso de pronto,
 olhasses-me tu um segundo.
 
 Perdi de súbito o teu rasto
 no comboio da uma e oito.
 Sou barco sem vela nem mastro
 a furar o mar da noite.
 
 | 
 |