
Zeco, o órfão - cap. V
Data 27/04/2014 12:53:41 | Tópico: Poemas
| ZECO, O ÓRFÃO Capítulo V Emoções No dia seguinte Zeco acordou cedo, muito antes do que normalmente despertava. Levantou-se, espreguiçou-se e saiu do quarto. Desceu as escadas e buscou sobre a mesa o cartão que Zélia havia deixado. Estava mesmo decidido. De posse do cartão, sentou no sofá, pegou o telefone e discou. Zélia logo atendeu. - Bom dia! É a Srta. Zélia? - Sim, sou eu! Bom dia! Com quem falo? - Com Oscar Flores, Zeco... - Ah... Decidiu alguma coisa sobre aquele assunto? - Decidi. Quero conhecer meu pai, minha mãe e meus irmãos. - Ótimo! Eu sabia que você me retornaria. Para quando quer que aconteça? - O mais breve possível, estou ansioso. Pode ser hoje? - Pode. Como faremos então? - Iremos em seu carro. A Srta. passa por aqui e me pega. Qual o melhor horário? - À noite, pois, teremos a chance de encontrarmos todos em casa. Às 19 horas está bem para você? - Está. Ficarei à sua espera. Neste dia nem foi à aula, tamanha a sua apreensão. Ligou para o colégio e disse a Dona Prazeres que estava indisposto e ficaria em casa naquela tarde. - Está bem, Zeco, cuide-se! – Desejou Dona Prazeres. Desta vez o tempo correu. Zeco nem saiu para comer fora, arranjou-se o dia inteiro com o que tinha na geladeira, por sinal, bastante sortida. Às 18 horas entrou no banheiro e tomou banho. Saiu e colocou uma roupa elegante, sapatos tênis. Estava um príncipe de tão belo! Às 19 horas em ponto a campainha do portão soou e ele se foi ao encontro da enfermeira. - Boa noite, Srta. Zélia! - Boa noite, Zeco... - Sabe a senhora por que eu escolhi o dia de hoje para esta revelação? - Não tenho a menor ideia. Por quê? - Hoje faz exatamente 14 anos que vim ao mundo! - Oh, Zeco, parabéns! - Obrigado! O pessoal lá sabe o que vai acontecer, estão à nossa espera? - Não, será uma grande surpresa. - Melhor assim – Concordou Zeco. O trânsito estava um pouco engarrafado, por isso demoraram um pouco para chegarem ao destino. Às 20 e l5 o carro estacionava bem em frente a um portão onde havia algumas pessoas conversando nas cadeiras ali colocadas. Pela janela do carro, Zeco percebeu um senhor de meia idade ( mais ou menos uns 40 e poucos anos ), uma senhora mais nova ( só um pouco mais nova ) e dois garotos, de uns 15 anos e outro de 16. Todos olhavam curiosamente as pessoas que desciam do automóvel e viam em suas direções. Foi Zélia quem se apresentou. - Boa noite! Meu nome é Zélia, eu gostaria de falar com Dona Mercedes e com o senhor Maurício... São vocês , por acaso? Maurício de Carvalho levantou-se e os cumprimentou. - Boa noite! Sim, somos nós mesmos. O que deseja de nós, Dona Zélia? - Poderíamos entrar? É um assunto um pouco grave e estamos quase na rua... Foi Mercedes quem respondeu. - Pois não! Entremos. E este garoto ( olhava fixamente para Zeco ) é seu filho? - Não, apenas meu acompanhante, um amigo. – Retrucou Zélia. - Oh, que lindo que ele é! – Elogiou Mercedes. Encabulado, Zeco agradeceu. - Muito obrigado! - Se meu filho mais novo fosse vivo, certamente teria sua idade. Quantos anos tem? - 14 – Respondeu Zeco. - Eu não disse! – E colocou a mão no ombro de Zeco e o levou para dentro. - Estes dois moleques aqui são meus filhos. Este é Pablo, tem 15 anos e este outro é Luciano, vai completar 17 no próximo mês. – Disse Mercedes, apresentando os rapazes. - Que família bonita! – Falou Zélia. - Obrigada! – Mercedes agradeceu. Neste ínterim, todos já estavam na sala de visitas, confortavelmente sentados . A televisão estava desligada e todos ficaram atentos à Zélia, que iniciava sua pregação. - Conforme disse lá fora, tenho um assunto muito sério para dialogar, espero que estejam preparados para me escutarem. Zélia já começou a narrativa pranteando, deixando a todos no mesmo estado de emoção. Detalhe por detalhe e foi revelando o crime que cometera há 14 anos antes. Não deixou escapar nem um centímetro, tudo estava escancarado, revelado, posto em pratos limpos... Maurício Carvalho, emocionadíssimo, falou. - Sabe da gravidade do que acaba de contar, não sabe Dona Zélia? - Sim, eu sei. Só falta acrescentar um detalhe. – Completou Zélia. - Então diga logo, já nos emocionou o suficiente, não acha? –Interrogou Maurício. - Este garoto que veio comigo, é ele o filho de vocês sequestrado da maternidade... O ambiente tornou-se... lágrimas, choros convulsivos, soluços, desmaios... ( Mercedes desmaiara ), mas logo recobrou os sentidos. Agarrou-se a Zeco, apertava-o de encontro ao peito, acariciava-o em seus cabelos, beijava-o repetidas vezes. - Meu filho, meu filhinho... Meus olhos nunca me enganaram até hoje. Quando pus o olhar em você, meu coração disparou... Meu filhinho, você está vivo! vivo! Ó Deus, obrigada, Senhor, obrigada! Zeco chorava mais que todos, estava visivelmente tombado de intensa emoção. Abraçou Maurício e lhe encheu o rosto de beijos e mais beijos. - Você é meu verdadeiro pai! Papai! Meu pai biológico... perdão! Pranteando desesperadamente, Maurício o abraçou e disse. - Você é tão vítima quanto nós... Não há porque pedir perdão. E o tomou nos braços, levantou-o e o ofereceu à família. - Venham todos, abracem e beijem o irmão caçula, Deus o traz de retorno ao lar! Pablo e Luciano abraçaram-se a Zeco, acariciaram seus cabelos, beijaram suas faces... Zeco a tudo devolvia com muita emoção. Finalmente os ânimos serenaram. Zeco, então, falou: - Meu lugar é junto de minha família, porém ainda não será a partir de hoje. Retorno para o meu lar e será lá que receberei vocês, estão convidados a mudarem para morar comigo, só que ainda temos algumas coisas jurídicas para tomarmos providências. - Exatamente, disse Zélia. Eu proponho que seja feito exame de DNA para dar mais segurança a tudo o que aqui foi revelado. Maurício disse: - Certamente o juiz a isto solicitará, mas sei que é proforma, vejam como ele é a cara da mãe e a semelhança que tem com os irmãos. Isto já bastaria para mim... Zeco, ainda bastante emocionado, pediu: - Entendo que Zélia cometeu um crime. Recebeu alto valor em dinheiro para fazer o que fez, também tinha o pai precisando de cuidar da saúde e ela não tinha recursos. Ficou entre a cruz e a espada, por isso, peço perdão para ela, não a denunciem, ela provou o quanto do caráter que tem, depois de tanto remoer essa culpa por todos estes anos. Foi Mercedes quem primeiro se manifestou. - De minha parte tem o perdão, mas que suma de nossas vidas. Maurício endossou as palavras da esposa. - Está bem, Oscar, atenderemos seu pedido, contudo temos de pensar em como faremos para resolver juridicamente este caso, pois, para isto, precisaremos de um bom advogado e isto é dinheiro, coisa muito rara nesta casa. - Não se preocupe com nada em relação a dinheiro, eu ponho em suas mãos a quantia de que necessitará para que tudo seja resolvido. E ainda conversaram até 1 hora da manhã, quando Zeco e Zélia se despediram. Zeco tudo passou de si para Maurício: endereço, local onde estudava, telefones... e convidou o pai para ir à sua casa no dia seguinte pela manhã, dissera ele, havia muito sobre o que resolver sobre aquele que havia sido seu pseudo pai. - Está bem, Oscar, meu filho, amanhã aí pelas 9 horas estarei em sua casa, sem falta. - Obrigado, pai Maurício, e não me chame de Oscar, todos me conhecem por Zeco. E riram. Todos se abraçaram. Zeco retornou para sua casa. Um novo dia nasceria e muita água ainda rolaria por debaixo da ponte. FIM DO CAPÍTULO V Gosto · · Partilhar
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