[Uma Esteira no Areal]

Data 12/05/2014 02:20:42 | Tópico: Poemas


A potência instituidora do verbo haver jamais se dilui: nada “há” a expressar, nada há... além do vazio! As coisas devem apenas "presentar-se" aos sentidos, do mesmo modo que é lido um verso ou observada a tela de um instante.
Nenhum poema deve ser interpretado, nenhuma entrelinha há de ser buscada, e no entanto, sem talento para mais, eu te sonho apenas assim:
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Tu...
Sentada numa esteira de palha,
a leve brisa da tarde nos teus cabelos,
a minha cabeça pousada nas tuas coxas macias,
as tuas mãos na prata dos meus cabelos,
e a tua voz a me falar essas palavras,
essas perguntas, essa inútil busca de sentidos
que apenas escapam, feito areia fina,
entre os teus dedos enlaçados nos meus dedos...
Mas eu sei: estamos em tempos disjuntos!

Abro os olhos,
vejo o teu rosto,
vejo os teus olhos,
ergo a mão lentamente....
E os meus dedos
passeiam em teus lábios.
Um silêncio escoa de teus olhos,
para os meus olhos — e cismas...

É um silêncio feito
de caminhos cruzados...
como a palha dessa esteira
sob as tuas pernas!

Finalmente,
o sol se põe,
o vento para,
a noite desce,
e confirma: eu sei,
estás longe, longe...
[O areal é sem fim.]
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[Penas do Desterro, terça-feira, 30 de janeiro de 2007 – 01h49:24]


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