
Dedicatóriia
Data 14/05/2014 19:07:07 | Tópico: Poemas
| Dedicatória Tocou o telefone E a tua voz de menina cigana Veio pedir-me num jeito muito teu Uns versos; só uns versos… Sorri-me toda. E quando desliguei Estes meus olhos ansiosos de azul Lá foram tontos pela janela fora Saltitar nos telhados…
Fiquei a meditar no teu pedido E quando despertei Tinha-os moldados.
Pediste uns versos… E a ti Maria Não posso dizer: Não!
Como fantasmas vivos Vieram-me à lembrança Aqueles tempos que vivemos no lar…
Os anos passam… (E nunca passam por nós sem nos levar…) Mas, tu, Maria Para mim Continuas a ser a menina trigueira Esguia e levantada De olhos trocistas e risos de luar Que um dia me foi apresentada Na sala de jantar… Ainda és A Maria (…) das canções Meias estropiadas Cantadas à varanda a meia voz Nas noites estreladas… A que me prometia oiro em pó Só para que eu «assassinasse» Na minha voz sem dote Um fado de Coimbra… (Um só, um só!) (Quando me lembro…) (E das serenatas do 1º de dezembro) ………………………………………………………… Pediste-me uns versos… Quem me dera fazê-los de cristal E enviar-tos em asas de andorinha! Feitos de primavera Gritariam ao sol, ao firmamento Que tu Serás eternamente A menina de pele aciganada D’ alma sensível, errante como o vento! Mas não posso fazê-los Nem sonhá-los sequer… Envio-te estes Rabiscados à toa Num receio da escola Ouvindo as pequenitas Cantar a tabuada…
A ti Maria Não posso dizer: Não! Mas não sei dizer nada…
Agora Que és tal como eu Senhora professora!
Só Deus pode dizer Por que embarcadas em navios diferentes Viemos aportar Ao mesmo ancoradoiro…
Mas… Se Deus assim o quis Que seja ele que te ajude a colher Dos olhos das crianças todo o oiro.
Maria Helena Amaro (Dedicado a uma amiga) 1962
http://mariahelenaamaro.blogspot.pt/2014/05/dedicatoria_14.html
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