Poesia em família.

Data 15/05/2014 02:01:41 | Tópico: Poemas

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O Manoel de Barros,
que chamo primo
pelo sobrenome
semelhante,
ensinou-me sobre
os brinquedos de palavras.
Sobre como carregar água
na peneira.
Tartarugas marinhas
não gostam de cozinha.
É um brinquedo.
Óleo de calêndula
deixa a lêndia
caleidoscópica.
É outro.
Para brincar
eu tinha que aprender
e desaprender a palavra.
Tirar a palavra
do trono semântico
e levá-la
para outro lugar.
Palavra no playground.
Outras vezes
o brinquedo
era uma fila
de palavras primas
como um vagão
do trem
descarrilhado
na linha do além.
Para os iniciantes
há um jogo fascinante.
Basta escolher
uma parte do corpo,
um animal ou vegetal
e uma cor.
Assim bem livre.
Cabeças de espinafres azuis.
Pés de cotia amarela.
Mãos de alho preto.
Cada uma é um brinquedo.
Nos estágios mais avançados
do ludismo vocabular,
além de sopa de letrinhas
é possível se fazer
uma piscina de bolinhas
de sílabas
e pular
empolado
de palavras
bolhas,
apupado
de fonemas estridentes.
Sopa de letras
entre os dentes.
Fio dental nas entrelinhas
e na minha gengiva
que sorri com mais um brinquedo.
A cigana sucumbiu à sunga do saci.
Hihihi
Valeu, primo.

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