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Alma não tem cor. Minha poesia sim. Comecei com azul. O azul de qualquer poesia. Eu tinha céu, mar, infinito, coragem. Tudo azul no meu parto lunar quando nasci poeta escrevedor de pó de estrelas em letras azuis. E no azul pude ver beleza e viver tristeza. A lágrima, o medo, a solidão azul das madrugadas. Azul escuro, talvez marinho, pois o mar sabe ser triste também. Depois de um certo poeta que idolatrava árvores, recebi na paleta da cuca, a cor verde de fazer versos. Foi uma festa na floresta! Virei dendrólatra assumido. Acatei o ato do abacateiro e tantas outras coisas verdes. Meu poema ficou verde turvo como a mão no sopro sobre o muro azul escuro. Verde e azul. Bicromata autenticado fiquei assim sossegado com poemas dessas matizes. Não que um vermelho não aparecesse. Há sempre algum amor pingando gosmento sobre meus versos. Nada significativo. Nunca fui poeta de escrever versos vermelhos. São manchas de vinho rubro nas camas sórdidas dos meus papéis de poeta. A festa na floresta escura. Meu suspiro azul recebe uma faísca vermelha que nunca toma uma forma fina. Vira sempre borrão. O que me chama atenção, é que de uns tempos pra cá tenho ficado amarelo. Não eu, o poeta, eu, o verso. Pensei tratar-se de anemia poética, mas a alegria estética das rimas amarelas diziam o contrário. Era um amarelo flor, dessas de relicário. Eram sóis girando e cascas de banana. Coisa doida, o amarelo. O elo das cores. Ainda sou neófito em amar o elo, mas aceito amarelo e a poesia de amar ela, a flor amarela da minha antologia. Contei a evolução das minhas cores para compartilhar a surpresa. É que depois de contar, as cores da minha natureza, vi o que ninguém mais viu. As cores dos meus poemas são também as do Brasil.
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