
O lápis no buraco negro
Data 19/05/2014 01:17:19 | Tópico: Poemas
| .
O lápis caiu na fresta do tablado. É a água abaixo que me pede prendas, oferendas às musas aquáticas. Quantas coisas em vão! Quantas coisas vão pelo vão dos dedos descuidados e deixam de ser nesta dimensão. Ah, mecânica quântica dos meus arrependimentos, dos meus tropeços, dos meus pecados. A música é tocada nas cordas possíveis dos universos paralelos nos quais não estou. Sinto saudades do eu que seria com o sim ao invés do não. O eu que acordou com o outro pé. O eu que perdeu o horário ao invés de chegar. O eu sem relógio nas entrelinhas do tempo. Tenho saudades do poema que seria se o lápis não tivera caído, quimera roliça no vão. No tablado, pescadores de poemas caídos ou mesmo paridos na água. Poemas freáticos desenfreados, subaquáticos, peixes do aquário de outro mundo imaginário. O motor do barco ronca. É o tempo. Mesmo sem relógio à cada instante-já fui, não fui e sou em outros espaços, tantos eus que sinto cansaço e saudades.
.
|
|