Canteiro

Data 19/05/2014 21:58:52 | Tópico: Poemas

Quando eu morrer,
não me cubram de flores nobres,
nem exuberâncias de versos,
nem frialdade de mármores...
Quando eu morrer,
aconcheguem-me de terra boa,
replantada de uma vinha qualquer
do meu Douro abençoado...
Demarquem-me a campa rasa
com pedrinhas soltas de xisto
e deixem as chuvas afundar as estrelas
que o vento há-de trazer nas asas
e as sementes que os passarinhos
hão-de trazer no bico
até ao meu palmo de céu,
feito de terra boa,
com memória de vinhas e olivais,
de papoilas e madressilvas,
de malvas e margaridas,
de prímulas e frésias...

Quando eu morrer,
tragam nas mãos flores silvestres,
miúdas e frágeis,
não temam vê-las morrer-vos nas mãos,
porque, como elas,
a vida não dura mais que um momento...

e deixem-nas ficar comigo,
pálidas e sem viço,
porque o milagre das sementes
fica com elas...
e os seus perfumes
na memória que levarem de mim...

Quando eu morrer,
que seja inverno,
para que o meu palmo de terra
tenha tempo de se cobrir de flores,
em nascendo a primavera...





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