QUANDO HOUVER COMO

Data 23/05/2014 17:12:18 | Tópico: Poemas


Quando houver como,
vou escrever um poema de amor
que seja da cor da noite.
Onde não apareçam as palavras alvas
dos entendidos e dos cantadores,
para ninguém o eternize naquelas purezas
em que ninguém mais crê.
Onde não haja tampouco
aquela sapiência juanesca
gritada em ecos nos palácios,
nem desesperos de virtudes arrebatadas,
imoladas nos altares
de solidões inconfessáveis.
E que o meu poema não tenha
nenhuns desses heróis antigos,
incansáveis dueladores
estafados em justas inúteis,
defendendo honras ténues,
que eles mesmos perdiam...
Quero-o escuro,
cor da noite cúmplice,
onde uma pitada de medo
possa acrescentar gostosos perigos
áqueles longínquos passos inocentes,
que ninguém mais cogitou escutar.
E quero-o sujo do barro dos caminhos,
e impregnado dos segredos das sombras
de todas essas esquinas
onde esperas intermináveis
temperaram sentimentos fortes,
com maravilhosos devaneios.
E espero que tenha todos os ruídos
do papel dobrado, amarrado com fitas,
onde vagos vestígios de cheiros
ainda evoquem o perfume e os anseios
de esborratadas e sempre eternas juras.
Que meu poema
contenha o sonho e a vertigem,
o sobressalto e a insônia,
as memórias de lábios e de mel,
os brilhos de todas as intenções,
e a cumplicidade dos deuses,
para que nunca seja definitivo,
e eternamente se renove em fervor...




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