Soneto da lascívia

Data 26/05/2014 13:49:45 | Tópico: Poemas

“Ó vós, que nesse fogo eu juntos vejo,
Se por serviços meus, quando vivia,
Revelei de aprazer-vos o desejo,

“Nos sonoros versos que escrevia,
Detende-vos: benévolo um nos diga
Onde viu fenecer o extremo dia”.


A Divina Comédia - Inferno - Canto xxvi



Aflito, talvez se quede na moldura cristalina da janela reenquadrada,
ardendo de desejos, nada esperando para sôfrego fruir na afrodisia.
Aos traços de ironias, se hoje ninguém veio, no afã galga a prumada;
se perdido ânimo, haveria angústias, no estímulo aferro permanecia .

Irrompendo solitário, sagra luxurias com um sorriso da recordação,
carpia plangência de torturas ainda cheio, arpejos da última vitória,
sinfonias obscuras de verão, saboreio sem pejos, mera diversão,
tanto assim olvidando que o passado poderia ser revelada história.

Braços e gritos, ritos sobre a cama, infinitos segredos em essência,
pensativo olhando para frios espaços, finge um estado de cuidado.
Sutil domínio, há dormência, mãos tremem, expõe tronco arqueado.

Ufano da profana carnal liturgia, aos cortejos prazerosa indecência,
injúrias das vontades, o fraco vaticínio jactância dos frouxos passos:
- alvitra a pudicícia austera quando soe mais lascivo entre devassos.





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