soneto da vida impossível

Data 27/05/2014 20:29:55 | Tópico: Poemas


" - O que um dia fui quando vivo, continuo a ser, agora, morto! Júpiter pode perder as esperanças de vingança. Nem o raio com o qual ele me atingiu no meu último dia, nem estas brasas que ele agora lança sobre mim farão com que eu lhe dê o prazer de se ver vingado! "

A Divina Comédia - Inferno - canto xiv





as sombras caíram céleres sobre a cidade dos pecantes,
seguiram-se fúlgidas as labaredas sob ruidosos trovões.
Tudo que ali era vivente foi na língua de chamas lambido,
cessou de vez o que por vida normal era então entendido.

Sob as tantas pétreas lápides tomadas como trincheiras,
passou ali inexorável o tempo, implacável senhor da razão,
ressuscitando à guisa de almas embriões jazidos latentes,
poucos ainda que restavam alguns no fundo dos sepulcros.

Volveu o pesadelo, inabalável sonho negro de priscas eras,
flutuante enredado na neblina pairando sobre a necrópole,
aos passos temeram, enchendo espaços c’a voz já inerme.

Aqui, onde tudo um dia começou, neste alfa-amaldiçoado,
entendeu-se já o quanto morrer pode ser apenas difícil,
quando ora viver torna-se de resto e vez todo impossível.








[felizes os que apenas morreram








antes da nova vida ]



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