A donzela, o mosqueteiro e Lúcifer

Data 05/06/2014 20:01:58 | Tópico: Contos





Ela pensou que aquilo era feito somente à tarde, assim que percebeu que a hora havia chegado. Também, erroneamente, achou que estavam procurando uma espada e uma última vítima. As palavras soavam frágeis e os olhos se movimentavam como pêndulos raiados em direção à multidão corajosa pela disposição havida, porém, um tanto pegajosa visto que havia pez no chão.
Nesse momento, sequer vacilou. Tornou-se algo pálida, mas muito mais sólida era a voz, mesmo se tratando de uma sexagenária ainda virgem. Seu olhar era altivo e voltou os calcanhares após gracioso movimento dos olhos assim que ouviu a sentença.
- “ Não sabia que bolos também eram feito de farinha. ” - disse, decepcionando quem esperava pelo menos um gemido e lágrimas. Nesse momento, a sessão foi interrompida. O jovem mosqueteiro desdenhosamente ajeitou a pluma do chapéu com um gesto suave e mais ríspido, algo violento, empurrou o boldrié. Quase que a ponta da espada fura um seio da condenada.
Sim, por que ela fora mesmo condenada. Mesmo assim, ainda quis descansar no mesmo lugar onde, há tantos anos havia ocorrido uma grande contenda entre o Bem e o Mal. Não saberia dizer quem prevaleceu, nem o que poderia ser encontrado no inferno que já não tivesse passado pelo céu. Incluindo Lucifer, que a tudo assistia compenetrado, avaliando se a alma do mosqueteiro valia tanto quando a da madona de cedro rosa. Nada concluiu e nem mesmo precisava.
De outros, mais não sabia e sequer quis saber. Esvaziando os porões da casa, Lucifer já havia convidado os estranhos para assistirem à colheita da grama do quintal. Todo o jardim ficou assim, coberto de grama verde quando a lâmina caiu.


in As palavras descontruídas – Filampos Kanoziro



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