Meu Pai, Meu Pior Inimigo

Data 30/06/2014 23:59:37 | Tópico: Poemas

É com pesar que me lembro
Do tempo que eu era pequeno
Que o tempo não volta jamais.

Lembro-me de meu pai
Ao banheiro, se escanhoando
Em frente ao nosso espelho,
Eu, ali na porta, olhando
Ele se barbeando, bêbado.

Mas parece que ainda vejo
Os tantos cortes sangrando
Vertendo liquido vermelho...

Do nada apontava a navalha
Dizendo que faria comigo
O mesmo...
E soltava uma diabólica
Gargalhada.

Minha mãe, coitada,
Com os olhos catatônicos, a esmo,
Não dizia nada.

Eu corria, no meu desespero,
Pisando as flores do caminho
Pousava embaixo do pessegueiro
Lá tinha meu Machado (de Assis) escondido.

Por lá ficava horas e horas, entretido
Até a noite cair entontecida e estrelada
Sentia muito medo, muito só e muito frio.
Sem escolhas eu tinha que ir para casa.

Pensava em minha mãe, coitada,
Como os olhos catatônicos, a esmo.
Estávamos condenados dentro de nós mesmos.
Tínhamos em casa nosso pior inimigo.






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