O JUGO DOS TECNOCRATAS

Data 15/07/2014 09:19:15 | Tópico: Artigos




Tecnocratas gostam de falar e escrever de maneira difícil. Gostam especialmente de empregar expressões criadas por eles mesmos e que apesar de resumirem as suas teorias, nada acrescentam. Os tecnocratas tem o total domínio das teorizações mas desprezam as próprias emoções. E como semideuses da administração, desprezam sistematicamente e subestimam perigosamente as emoções das partes envolvidas nos processos em que intervêm. Reconsiderou Michael Hammer ao reformular a sua “ Teoria da Reengenharia” e deu a devida atenção aos sentimentos e reações das partes envolvidas. Mas em nossa administração, o que se vê é que apesar de inicialmente ter adotado a “ reengenharia do Estado”, não evoluiu nesse conceito após a reformulação e continua adotando a prática de impor transformações , no estilo inicial .
São as modificações sugeridas pelos tecnocratas , que valorizam mais as estatísticas e as planilhas que as emoções das pessoas. Desprezadas as emoções, nada valem os planejamentos e planos ou suas modificações. Em sã consciência, desprezadas as paixões políticas e os envolvimentos emocionais não há como negar as boas intenções da administração. Porém, torna-se necessário que se tenha o discernimento necessário para que se faça chegar aos tecnocratas a quem foram encomendadas as modificações que elas de nada valem se não refletirem ao menos, os mínimos anseios das partes interessadas, não na prorrogação indefinida do problema, mas na sua solução. Essa prorrogação indefinida capitaliza a questão, rendendo dividendos políticos mas além disso, não contribui para a solução.
Teorias açodadas, ilações românticas e a dura realidade da vivência prática dos problema geralmente contrapõem-se e não raramente resultam as primeiras em estrondoso fracasso, geralmente acompanhado do desperdício de preciosos recursos. A elaboração de um projeto sem um minucioso estudo preliminar onde devem obrigatoriamente serem levadas em consideração as opiniões e as manifestações dos indivíduos envolvidos fatalmente resultará num plano incompreensível para as bases, inaceitável e necessitará de atitudes políticas equivocadas, mantendo todos sob o jugo de um planejamento eivado de imperfeições e alterações infelizes posto que impostas e unilaterais. Entretanto, seria ingenuidade negar que são fatos que contribuem para um aumento de prestígio eleitoral, capitalizando politicamente a questão e gerando seus dividendos políticos.
Por isso, não é possível aplaudir todas as modificações ou quem as sugeriu. O conhecimento prévio das reações das partes envolvidas não pode ser desprezado. E nem o conhecimento das opiniões. Opiniões , resultados de consultas não aprovam o conteúdo de um projeto e também sequer rejeitam-no totalmente, não se preocupando em julgar o mérito da questão por ser geralmente além dos limites da maioria dos envolvidos como analistas ou tecnocratas. Mas são de vital importância como subsídios a qualquer projeto posto que refletem as emoções. Não há a intenção da critica gratuita na abordagem deste assunto, mas o anseio pela aplicação de critérios justos e do reconhecimento de uma classe laboriosa e operante. Fica porém o protesto à forma como são apresentados projetos de interesse dos policiais, uma repulsa à falta de consideração que vem sendo demonstrada com todos os integrantes da Polícia Civil de São Paulo.

Artigo escrito e veiculado na imprensa local no início dos anos 2000, quando presidente da APOL- Associação dos Policiais Civis de Piracicaba )



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