Menina cabocla

Data 24/01/2008 23:48:41 | Tópico: Prosas Poéticas

Menina cabocla

Eu sinto-me acocorada em um rabo de fogão.
As labaredas estalando, em tons alaranjados.
A lenha deixando os restos
das cinzas amontoados.
Panelas pretas de carvão exalam o cheiro gostoso da comida
roceira. No forno o pão de queijo graúdo e a broa de fubá
e eu... menina, criança, mulher de olhar
triste, profundo, faceiro.
E eu menina, encontro
no estalar do fogo o aquecer da solitária alma envergada, resumida em gelo.
Cubro as pernas finas e esbranquiçadas
com vestido de chita. Os pés descalços
se ajeitam num espaço pequenino.
Eu menina cabocla, que tão poucas vezes
sorri, morando em um casebre com telhas
que na tempestade sucumbi.
Não sei o que é luxo, mas sei sonhar...
quando pego a lata pra buscar água no poço a cabeça dá voltas pelo mundo de riqueza, casarões,
homens distintos a me rodear.
Pela trilha cantigas, rodopio e a lata balança no ritmo da felicidade.
Eu sou assim: sou menina, criança,
sou mulher, esperança, sou cabocla,
imagem refletida nas poças da simplicidade
onde traduz-se os sonhos foscos.
Realidade!




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